Em seu livro “Pedagogia da Autonomia”, o educador Paulo Freire expõe o óbvio: a educação sem partido perpetua a alienação e os problemas sociais. Um claro exemplo disso é como a formação educacional de surdos no Brasil ainda reflete um cenário incômodo, o qual é resultado da incompetência estatal e da sociedade extremamente alienada e ignorante. Mormente, a esfera estatal mostra-se como um dos desafios à consolidação do acesso à educação desse grupo. À revelia da Constituição Federal de 1988, tal fato abjeto se reflete nos ínfimos investimentos em infraestrutura escolar, bem como na ausência de capacitação profissional adequada para lidar com essas pessoas. Dessarte, essa deficitária formação, consoante ao sociólogo iluminista Rousseau, viola o "contrato social", pois o Estado, por escolha ou por incompetência, não cumpre sua obrigação de promover a equidade social, o que faz com que os direitos permaneçam no papel. Outrossim, o Brasil ainda não se desprendeu de suas amarras ideológicas, porquanto, na ditadura militar, a direita política, ao torturar e matar milhares de civis, legitimou discursos fascistas de inferioridade de minorias. Dessa forma, hoje, a periferização dos surdos é neutralizada pela doentia ignorância e sua discussão é bloqueada nacionalmente. À vista disso, nota-se, nas escolas, a banalização de preconceitos intrínsecos à mente de outros estudantes e até de professores. Portanto, consoante ao sociólogo Habermas, para desenvolver a "ética comunicativa", é fundamental uma reforma de valores pelo desenvolvimento da comunicação e criticidade, como ocorreu no Iluminismo, em que, após anos de debates, a razão prevaleceu. Logo, ao Ministério da Educação cabe reforçar discussões nas escolas, com o apoio familiar, por meio de rodas de conversa com material físico e online, guiados pela abordagem freiriana, e por palestras ministradas por estudantes de psicologia, para que essa problemática seja amplamente discutida. Ademais, deve incentivar a capacitação de professores que saibam a Libras, e a utilize como primeira língua, por meio da disponibilização de verbas. Espera-se, com isso, que a realidade seja complacente à ótica habermasiana. Afinal, não será o conservadorismo acéfalo e sua moralidade fingida a redibir essa nação, porém a educação, como dito por Freire, mudará as pessoas, e pessoas transformarão o mundo. É assim que se faz justiça social.