Mesmo sob o suplício de passar 30 mil anos acorrentado a um rochedo, Epimeteu, pai fundador da humanidade na mitologia grega, furtou o fogo sagrado de Zeus para iluminar a mente humana. Contudo, se o Titã notasse a situação degradante das crianças de rua no Brasil hodierno, talvez percebesse o seu debalde esforço. Por esse prisma, é válido analisar as causas, as consequências e uma possível medida para atenuar esse revés. Partindo da perspectiva filosófica de São Tomás de Aquino, todos os indivíduos de uma sociedade democrática têm iguais direitos, deveres e importância. Antagônico ao pensamento escolástico, quando se observa o artigo sexto da Constituição de 1988 -todos têm direito à moradia- sendo deturpado, nota-se a incongruência na aplicação da lei. Essa falha é observada na prática: segundo a campanha nacional “Criança Não é de Rua”, há, no Brasil, 21 mil crianças sem-teto. Logo, a persistência dessa situação é um revés a ser mitigado por todo o corpo estatal. A filosofia de Quincas Borba - Humanitas- contém princípios que, conforme a explanação do personagem, consideram a cooperação entre pessoas uma forma de atender a interesses pessoais. Constato na realidade brasileira, esse egoísmo machadiano é perceptível pelo axioma de que a sociedade ignora a existência dessa classe marginalizada - crianças de rua- e busca a satisfação dos desejos efêmeros ao invés de fornecer ajuda à fundações preocupadas com essa causa, reverberando, assim, não só o egoísmo, como também o individualismo atrelado à uma falta de compaixão sólida. Dessarte, a tese do filósofo Thomas Hobbes -”A intervenção estatal é necessária, como forma de proteger os cidadãos de maneira eficaz”- é corroborada. Com efeito, torna-se imperativo que o Poder Executivo, assistido pelo Ministério do Desenvolvimento Social, cumpra a Constituição, por meio de investimento em habitação e escola aos desabrigados, oferecendo-lhes cursos técnicos para cristalizar um futuro seguro, ao passo que conscientize a sociedade a ajudar com mantimentos ou ajuda monetária por meio de doações. Espera-se, com isso, desenvolver todo o tecido social e fazer valer o sacrifício de Epimeteu.