Brás Cubas, o defunto autor de Machado de Assis, diz que a melhor escolha feita foi não ter filhos, pois não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Ademais, no Brasil atual, infelizmente, mais de 20 mil crianças vivem em situações de rua, o que faria o defunto se sentir ainda mais feliz por não ter contribuído com essa realidade. Desse modo, nota-se como problemática a desestruturação familiar. Tal impasse é justificado pela falta de diálogo entre pais e filhos, e não apenas por questões econômicas. Por conseguinte, o habitus primário, outrora discutido por Pierre Bourdieu, é estruturado por meio de instituições de socialização, entre elas a família e, de encontro a esse saber, percebe-se que as discussões e as instabilidades familiares geram insegurança e impotência nas crianças. No entanto, o Estatuto da Família tem como dever dirimir problemas familiares no intuito de reduzir os números de crianças desabrigadas. Observa- se que existem outros fatores, que somados ao impasse, colaboram com essa drástica realidade. Destacam-se, então, o vício em drogas e a violência doméstica, os quais são determinantes para a estigmatização e a marginalização dos desabrigados. Dessa maneira, essas crianças são rejeitadas socialmente e, cada vez mais, alvos de preconceitos. Além disso, vale ressaltar que esses moradores de rua não usufrutam de todos os direitos básicos do cidadão. Em virtude disso, muitos são alvos de exploração sexual, mau-tratos e muitos não têm acesso à educação e, consequentemente, na vida adulta, não conseguem um trabalho digno. Logo, é observado a transgressão de uma das Cláusulas Pétreas da Constituição Cidadã no que tange a discriminação, em diversos setores, de crianças desabrigadas. Torna-se evidente que a estruturação falha de uma família é o principal agravante da situação de rua de muitas crianças brasileiras. Faz-se necessária, portanto, uma mediação participativa, em que o Poder Executivo aprove a construção de moradias públicas para os desabrigados e ofereça acompanhamento psicológico aos menores, cabe, ainda, ao Mec, com as escolas públicas e particulares, reservarem algumas vagas às crianças que moram nas ruas e, aos pais, é imprescindível que instruam os filhos desde pequenos da maneira mais adequada possível, de forma a evitar instabilidades. Será, assim, assegurado às crianças o direito à segurança e um país que Brás Cubas pudesse se orgulhar.