De acordo com o mito da criação Inca, o ser humano e as estrelas foram criados pelo Deus Viracocha e, assim como os astros celestes movem-se em harmonia pelo céu, uma sociedade só pode progredir se todos viverem em equilíbrio. Todavia, as crianças vivendo em situação de rua no Brasil, em pleno século XXI, evidenciam que a sabedoria da antiga civilização ameríndia não é aplicada no país, haja vista que o problema compromete garantias constitucionais desses indivíduos. Por isso, faz-se necessária uma análise dos caminhos a serem tomados na luta contra esse mal. Em primeiro plano, é válido ressaltar que a Constituição Federal de 1988 garante a dignidade humana e a moradia como direitos fundamentais do cidadão. Destarte, o Poder Público tem o dever de fazer cumprir essa determinação. Contudo, isso parece não acontecer atualmente, visto que um estudo feito pela Campanha Nacional Criança Não é de Rua, em 2013, estimou que mais de 21 mil crianças e adolescentes estão pernoitando em logradouros públicos no Brasil, sendo as principais causas dessa situação a pobreza extrema e o envolvimento com drogas. Logo, fica claro que é preciso um maior esforço por parte do Estado na garantia de princípios constitucionais a esses brasileiros. Nesse contexto, vale lembrar que, como disse o antropólogo Darcy Ribeiro, o Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca em sua herança, a qual torna a classe dominante enferma de desigualdade, de descaso. Outrossim, essa inércia dos setores da sociedade que controlam a economia e, por conseguinte, o poder político, em frente das injustiças sociais, contribui de forma crucial para a manutenção de milhares de crianças sem moradia. Nesse sentido, a sociedade civil tem o papel precípuo de mobilizar a população, com a finalidade de lutar, pela via democrática, para modificar essa conjuntura perversa. Torna-se evidente, portanto, a necessidade da mudança dessa realidade. Como forma de garantir isso, as ONGs devem mobilizar o povo, com abaixo-assinados e manifestações, para pressionar seus congressistas sobre o tema, no intuito de agilizar a implementação de programas sociais para os pequenos que moram nas ruas, como cursos técnicos gratuitos e a construção de mais moradias populares. Em consonância, o Governo Federal deve investir mais no combate às drogas e na reabilitação de crianças viciadas, com objetivo de diminuir o vício entre os menores, uma das principais causas do problema. Assim, o Brasil poderá dar mais visibilidade àqueles que parte da sociedade insiste serem invisíveis.