No romance "Manuelzão e Miguilim" do escritor Guimarães Rosa, um dos protagonistas apresenta uma limitação visual que o impede de ver o mundo como, de fato, ele é. É possível relacionar essa dificuldade de enxergar com a postura de parte da sociedade brasileira diante da falta de respeito com os idosos, o que dificulta a resolução deste problema. Nesse prisma, cabe analisar essa questão no país. Antes de tudo, nota-se que o desrespeito aos idosos é um reflexo das relações de poder presentes na sociedade. Sabe-se que, grupos dominantes neutralizam as forças dos demais agrupamentos. Um exemplo disso é a tentativa de exclusão proficional daquele que envelhece. Logo, como indivíduos da terceira idade são ditos, preconceituosamente, como improdutivos, pontua-se que eles deixam de ser contratados por algumas empresas. Esse fato vem a fortalecer o discurso do filósofo Michel Foucault de que o controle do outro se revela como uma forma de garantir privilégios. Também, compreende-se que parte da população não tem se incomodado com a falta da garantia dos direitos do idoso, o que demonstra um processo de naturaçização do que é negativo. Entende-se, pois, aceitar essa postura pode ter como consequência do agravamento da situação, já que deixa de haver empenho coletivo para se alterar essa realidade. Levando em consideração os estudos da filósofa Hannah Arendt, uma vez que, devido a um processo de massificação social, as pessoas estão perdendo a capacidade de discernir o certo do errado. Ressalta-se, portanto, que os idosos devem ser respeitados. Para isso, é necessário estimular na população, via campanhas midiáticas, para que não se naturalize a falta de direitos da pessoa idosa. Também, é fundamental desenvolver, mediante o setor privado, programas que permitem o ingresso e a permanência dessas pessoas no mercado de trabalho, respeitando, assim, o Estatuto do Idoso. Desse modo, seria possível oferecer a sociedade brasileira os "óculos" que fizeram o personagem de Guimarães Rosa enxergar a vida de forma plena.