O documentário “Terráqueos”, dirigido por Shaun Monson, retrata a dependência humana para com os bichos e a violência a qual são submetidos, seja para alimentação, vestuário ou diversão. Nesse contexto, fora das telas, isso é uma realidade no cenário brasileiro, uma vez que, apesar da Lei de Crimes Ambientais, cerca de 20 denúncias de maus-tratos em animais por dia no estado de São Paulo são registradas pela polícia civil, conforme dados da Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA). Nesse sentido, o combate à crueldade contra os animais é imprescindível e deve partir do ataque às suas causas, sejam elas relacionadas à sobreposição do capitalismo ou à cultura enraizada. É importante considerar, antes de tudo, que Charles Darwin, por meio da teoria darwinista, revelou uma origem comum entre bichos e humanos. Dentro desse contexto, tal princípio originou uma preocupação moral do homem para com a exploração animal. Entretanto, a sociedade capitalista, muitas vezes, se justapõe a isso, na medida em que o corpo social é reduzido a uma “coisa” que pode ser vendida, comprada e até descartada. Desse modo, a utilização da matéria-prima animal para a confecção de roupas, sapatos e bolsas se sobrepõe à proteção animal, devido ao alto lucro gerado. Prova disso é que a grife Blackgama, especialista em peças feitas de peles de animalejos, arrecada cerca de US$ 250 mil em apenas um casaco. Convém analisar, também, que a hierarquização antropocêntrica das formas de vida, postulada na antiguidade pelo filósofo Aristóteles, persiste até os dias atuais. Dessa forma, muitos consideram os animálias como seres inferiores, indignos de direitos e, até mesmo, merecedores de descaso e violência, isso sendo, por conseguinte, originado de uma cultura fixada na sociedade. Nessa perspectiva, é válido destacar que por intermédio da bioética, defendida pelo filósofo Peter Singer como um meio de desfazer a superioridade humana no que concerne às outras espécies, será possível mitigar a agressão contra os bichos. Fica claro, portanto, que a cultura entranhada e a justaposição do capitalismo potencializam a violência contra os bichos. Dessarte, é primordial que o Ministério da Educação insira na grade curricular dos ensinos fundamental e médio o conteúdo da “Bioética”, o qual deverá ser ensinado aos alunos mediante debates realizados pelos professores, a fim de trabalhar a mente das crianças e formar gerações mais responsáveis , desconstruindo, dessa maneira, a noção de supremacia humana. Ademais, é essencial que o poder legislativo e judiciário unam esforços para assegurar a correta aplicação das leis de proteção à fauna, por intervenção de punições aos que as infrinjam, com o propósito de garantir dignidade e segurança aos animais. Com efeito, o combate à crueldade contra os bichos, tal qual apresentada no documentário “Terráqueos”, será alcançado.