A sociedade contemporânea é resultado de um conjunto de fatores políticos, tecnológicos e socioculturais que, para além de avanços, trouxeram consigo retrocessos, como a deturpação de valores éticos e a liquidez das relações interpessoais. Nesse contexto, a marginalização sofrida pelos moradores de rua surge como uma problemática que ainda não é tratada com a importância que demanda. Convém, dessa forma, discutir o papel do Estado e da sociedade civil nesse processo, ressaltando a urgência de medidas que promovam a integração efetiva desse grupo ao meio social. Segundo o filósofo contratualista John Locke, o Estado deve agir como um órgão controlador que mantenha a harmonia dentro de uma nação. No entanto, a não garantia de direitos sociais básicos - como saúde e alimentação de qualidade - vivenciada por moradores de rua em todo o mundo dificulta a aquisição de uma realidade harmônica: a falta de saneamento básico e de higiene, somada à fome diariamente vivida por essa parcela, evidencia a negligência do poder público em face dessa questão. Assim, a supressão desses direitos reforça a necessidade de políticas públicas que amenizem a precariedade sofrida por quem vive nas ruas. Outrossim, há o estigma do preconceito, proveniente de parte da população. Os moradores de rua são vítimas frequentes da violência simbólica, conceituada pelo sociólogo Pierre Bourdieu como a dominação legitimada de um grupo social sobre outro - nesse caso, da própria sociedade sobre aqueles que vivem nas ruas. À vista disso, percebe-se que essa discriminação dificulta a integração desses indivíduos ao corpo social, na medida em que intensifica o processo de marginalização do qual são vítimas. Entende-se, portanto, que a exclusão dos moradores de rua deve ser combatida. Para tanto, os órgãos do poder público devem desenvolver programas de assistência social que proporcionem a essa parcela condições dignas de higiene e alimentação, atenuando problemas como a fome e garantindo os direitos básicos do ser humano. A mídia, por sua vez, deve exercer sua função na sociedade e veicular propagandas televisivas que orientem os telespectadores a respeitar e saber conviver com os moradores de rua, a fim de reduzir o preconceito que esses sofrem e estimular uma convivência saudável. Dessa maneira, esse grupo desfavorecido será gradativamente integrado à sociedade, e o mundo gozará de uma harmonia social.