Título da redação:

O ativismo em tempos líquidos

Tema de redação: Ciberativismo: Ferramenta de protesto ou falso ativismo?

Redação enviada em 25/07/2016

É inegável que a internet, sobretudo as redes sociais, vem sendo um importante meio de propagação de indagações e discussões políticas no século XXI, e isso tende a permanecer. Contudo, muito embora seja uma ferramenta de protesto que pode ampliar o número de pessoas que se indignam sobre algo, não necessariamente esse ciberativismo é mais importante e, por isso, é imprescindível que se saiba utilizar essas tecnologias para esse fim. Há duas décadas foi criada a internet em moldes análogos ao que se conhece hoje, e desde lá é observado a evolução desse meio de informação no que se diz respeito às tecnologias. Entretanto, é importante se destacar a evolução da interação dos usuários com essa rede, marcada, atualmente, por uma grande dependência a ela, sobretudo de jovens. Ainda na década de 1990 eclodiu-se o movimento neozapatista, no México, sendo esse um dos pineiros no uso da internet para a divulgação de suas ações. O subcomandante Marcos, um dos líderes do Exército Zapatista de Libertação Nacional, expôs ao mundo as reivindicações de uma grande parcela da população mexicana, que estava em situação de miséria e abandono. Essa pioneira ação levou pessoas de todo o globo a tomarem conhecimento de uma visão de mundo que não era veiculada pelos convencionais meios de comunicação, demonstrando a potencial força política que a internet tem. Steve Jobs comparou a internet a uma bicicleta para o cérebro, isto é, a afirmou como sendo uma ferramenta que aproveita melhor a capacidade mental, reduzindo, no entanto, o esforço. Confrontando essa visão, muitos sociólogos propõe, atualmente, que a internet seja uma amplificadora de características, ou seja, uma pessoa sociável tende a tornar-se ainda mais sociável com a internet, já uma pessoa com dificuldades em socializar-se pode piorar ainda mais essa situação. Depreende-se, então, que a participação em protestos pode ter sentidos distintos para diferentes pessoas, inclusive o de moda, quando um movimento torna-se popular. E é nisso que se encontra a problemática, pois é provável que nem todos que se mobilizem por uma questão estejam igualmente interessados nela, podendo ser também uma estratégia de autopromoção ou de reconhecimento por uma grupo de pessoas. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “as redes sociais são uma armadilha” e um entorpecente mental, que tornam as relações, segundo ele, “líquidas”, de tão superficiais, em que as pessoas se fecham em suas opiniões, publicando-as para formar uma imagem de si. Assim, fica claro que a internet tem de ser corretamente manuseada para ser uma ferramenta potente para se protestar, pois, se não, inclusive se diminuiria os diálogos, que já são cada vez mais escassos. Dessa forma, é evidente que a internet torna o ativismo melhor quantitativamente, mas nem sempre acrescenta em qualidade. Assim, é necessário uma consciência crítica para evitar-se modismos, assim como é importante que os protestos sejam também fora da internet, demonstrando que esses não existem só na zona de conforto. Esse quadro pode ser conseguido, em médio a longo prazo, por uma educação que saiba utilizar essa tecnologia a seu favor no ensino, bem como aulas sobre o seu uso de forma saudável, ética e cidadã, que instrua os jovens a melhor utilizar essa poderosa tecnologia.