Título da redação:

Da morte ao ativismo

Tema de redação: Ciberativismo: Ferramenta de protesto ou falso ativismo?

Redação enviada em 20/08/2016

Ainda no século XIX, Brás Cubas – o defunto-autor de Machado de Assis – em suas “Memórias Póstumas”, diz apenas ter sido capaz de denunciar os problemas de sua sociedade após a morte. No entanto, com a consolidação das mídias sociais, o conceito machadiano de crítica tem cedido espaço às novas reivindicações de uma sociedade ainda desigual e intolerante, em que o ciberativismo ganha espaço pela mobilização de segmentos, em sua maioria, marginalizados. Nessa perspectiva, cabe a analisar a relevância sociopolítica de um novo modelo de democracia no Brasil. É importante salientar que a sociedade brasileira ainda permanece permissível em relação às incongruências sociais. Em seu livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda retrata o brasileiro como indivíduo descompromissado com as normas sociais, em sincronia com um ambiente onde prevalece o individualismo. De modo análogo, observa-se uma população, por vezes, à margem dos principais assuntos de importância nacional, seja pela desinformação, seja pelo desinteresse. No entanto, ao longo da história, segmentos engajados, como os partidos de esquerda e o feminismo ressaltaram as incoerências na estrutura brasileira, ao divulgar seus ideais em todos os veículos comunicativos em ascensão. Dessa forma, do rádio antigo às redes sociais, a ágora da pós-modernidade – o ciberespaço – se expandiu para todas as áreas do cotidiano, sobretudo, para política de maneira contundente. Com efeito, um aspecto a ser considerado remete à evolução tecnológica vivenciada nas últimas décadas. Isso porque a expansão da tecnologia, principalmente, a informacional define a opinião do homem moderno, em que uma breve pesquisa é capaz, supostamente, de torná-lo conhecedor do panorama social. Como resultado, a facilidade e o impacto da propagação de opiniões viabilizam, por vezes, discursos radicais e preconceituosos. Entretanto, é possível se sobrepor a esse viés, caso haja a democratização da informação, bem como o debate, conforme elucidou Sócrates na Antiguidade Clássica, em que o conhecimento pleno somente seria alcançado a partir da discussão persistente. Dessa maneira, conhecer e discutir são pré-requisitos para um ativismo saudável e mais tolerante. Entende-se, portanto, que o ativismo nas redes sociais gera uma população mais engajada, desde que haja tolerância em relação a opiniões opostas. Por isso, já que ainda há um monopólio acerca da informação, cabe ao Terceiro Setor – associações comunitárias – auxiliar novas mídias alternativas, aliado a universidades em grupos de extensão nas áreas de serviço social e jornalismo, por exemplo, destinados a discutir e ampliar o ciberativismo em longo prazo. Ligado a isso, urge às escolas e às famílias o papel sinérgico de formas jovens mais críticos e cientes dos problemas sociais, em fóruns e projetos extracurriculares munidos de materiais e palestras específicas, por intermédio de psicólogos e ativistas. Em alusão à obra de Machado de Assis, por essa sinergia há de se ter o afastamento da visão realista do autor e uma aproximação ao sujeito proativo e consciente.