Título da redação:

O brasileiro alienista

Tema de redação: Atual cenário da leitura no Brasil: realidade favorável ou falta incentivo?

Redação enviada em 23/08/2016

Consolidada ainda no século XX, a globalização dinamizou informações, relativizou fronteiras e alterou a relação do homem com aquilo que produz. Diante desse fato, com a facilidade proporcionada pela tecnologia informacional, a leitura se tornou um hábito restrito do cotidiano nacional, o que revela um distanciamento do país de sua própria cultura literária. Sob essa perspectiva, é válido analisar as atribuições sociais do atual cenário da leitura no Brasil, bem como suas implicações para o futuro da literatura e do conhecimento. É importante salientar que o século XXI é pródigo em transformações socioculturais, uma vez que o capitalismo globalizado alterou a forma como o homem estabelece o conhecimento. Isso decorre da ascensão das tecnologias comunicativas, em que as informações circulam de forma massiva e veloz, o que torna obsoleta a prática de leitura marcante no século XVIII e XIX. Segundo dados do Ibope, apenas 56% da população mantém o hábito de ler, o que indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Além disso, a alfabetização do brasileiro, em comparação a outras nações, é tardia e não gera uma cultura literária efetiva, sendo a leitura tratada como apenas mais uma obrigação curricular. Assim, desenvolve-se uma geração acrítica e compassiva, uma vez que a leitura é função primordial de quem discute e revoluciona. Com efeito, cabe apontar o papel da educação nesse processo. Florestan Fernandes, sociólogo brasileiro, condenava a pedagogia tradicional, pois acreditava que ela se encontrava muito distante da realidade brasileira e, sobretudo, do processo social. De modo análogo, observa-se que a falta de incentivo à leitura surge desde a mais tenra idade, em que o jovem é coagido a ler obras clássicas, por vezes, incompreensíveis devido ao seu restrito acervo sociocultural. Como agravante ainda há a influência familiar na questão, pois uma criança que convive em um ambiente infértil à leitura dificilmente será um leitor ávido, já que não há estímulo. Em consequência, os índices de leitura no país tendem a piorar, o que torna o Brasil um país que não conhece sequer o seu amplo recurso literário. Dessa maneira, o brasileiro se aproxima da visão machadiana, por assistir passivamente a passagem do tempo e sua dissolução, inócuo diante dos problemas sociais referentes à leitura. Entende-se, portanto, que a falta de incentivo ao hábito de ler implica em uma sociedade alienada e sem um desenvolvimento efetivo de sua noção artística e cultural. Por isso, já que 44% da população não lê, cabe ao Governo Federal, sob auxílio do Ministério da Educação, incentivar a leitura a partir de isenções fiscais e prêmios de honra à literatura às entidades e aos indivíduos que promovam o hábito através da doação de obras ou pela indicação mútua de leitura em grupos organizados. Somado a isso, é urgente o papel mutualístico entre escolas e famílias, com o intuito de formar jovens leitores e críticos, além de instruir pais e professores acerca da necessidade do exemplo no processo educacional, por intermédio de escritores e psicólogos em materiais e palestras que acoplem a literatura clássica e contemporânea ao universo infantojuvenil. Em alusão à obra de Machado de Assis, por essa sinergia há de ser uma mudança gradativa do brasileiro de personagem marginal para cidadão leitor e proativo.