Título da redação:

Espectadores da realidade

Tema de redação: Atual cenário da leitura no Brasil: realidade favorável ou falta incentivo?

Redação enviada em 09/01/2016

Quando desembarcou no Brasil, Dom João VI e a corte portuguesa promoveram um vibrante surto cultural na colônia. Disseminaram-se teatros, bibliotecas e a ínfima produção literária sofreu uma reviravolta atendendo às necessidades da elite lusa, enquanto a maioria pobre e analfabeta foi mantida apartada das transformações. De lá para cá, nos últimos cem anos, o ensino público passou a ser uma realidade ao mesmo tempo em que se aumentou o acesso à literatura, gerando um cenário que, à primeira vista, pareceria favorável. No entanto, grande parcela da população reside, paradoxalmente, na mesma conjectura de outrora, em um cenário de total aversão aos livros. Como bem notou o escritor Lima Barreto, o Brasil não possui povo, mas sim público. Usado primordialmente como massa de manobra, o cidadão comum mudou, ao longo dos anos, apenas o caráter de suas reivindicações. Não raramente, muitos se mobilizam por melhores condições na saúde e na educação, porém, contentam- se apenas em conseguir arrancar uma promessa dos governantes de que tudo melhorará. Dessa forma, as medidas publicas tomadas, especialmente na educação, são aplicadas em momentos oportunos à conquista de votos ou à manutenção do poder vigente, sendo, em última análise, ineficazes na escolarização e, principalmente, em despertar o interesse pelos livros na população. Devido a essa forma de governar, a educação pública é vista meramente como propaganda ou barganha, tendo pouco impacto na vida do cidadão comum, que, a cada ano, como mero espectador, torna-se mais desinteressado. Ademais, figurando paradoxalmente como causa e consequência do atual cenário da leitura no país, está o perfil ideológico da juventude brasileira. Pautados no estilo de vida da “ostentação”, crianças e adolescentes crescem em um meio impregnado pela supervalorização da sexualidade e dos bens materiais, onde qualquer apelo à intelectualidade é visto como “clichê” ou fora de moda. Sendo, em sua visão, impossível a conciliação entre as duas realidades, o jovem prefere manter o status quo de seu meio, ignorando totalmente todas as oportunidades com que conta. Dessa forma, embora a comparação com outros momentos da história brasileira revele um cenário favorável ao desenvolvimento desse hábito, a permanência do povo brasileiro como mero público das ações governamentais permite que os investimentos em educação sejam meramente propagandísticos, servindo, de tempos em tempos, apenas para saciar às débeis insatisfações populares. Esse fato alimenta a atual ideologia da juventude, que mina qualquer esperança de valorização da literatura. Para reverter esse quadro, faz se necessário a mobilização e união de autoridades da educação brasileira e o povo, de forma a fiscalizar os rumos das medidas públicas. Para isso, comitês de fiscalização figuradas por esses devem ser implementados, bem como a participação na legislação dessa área. A mera reivindicação sem fiscalização contínua apenas manterá o povo na plateia e os livros na estante.