Título da redação:

José e a desigualdade social

Tema de redação: As políticas públicas de incentivo à educação superior no contexto nacional

Redação enviada em 28/03/2016

José Felipe, 17 anos, mulato, morador da favela da Rocinha na Zona Sul do Rio de Janeiro. Estudou a vida inteira em escola pública, onde, já é sabido, que a qualidade do ensino deixa a desejar. Sem muitas perspectivas e em ano de vestibular, José afirma não ter muitos planos para o futuro, visto que a disputa para ingressar em uma faculdade federal é acirrada e ele se encontra em desvantagem. Infelizmente, a realidade de José é, também, a de mais da metade da população brasileira. Segundo o Banco Mundial, cerca de 10 milhões de brasileiros ainda vivem em situação de extrema pobreza e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT, 54% da população vive com apenas 3 salários mínimos. Diante desse quadro, já há alguns anos, o governo brasileiro vem investindo em medidas públicas que busquem atenuar tal realidade. Dentre tais medidas, surgiram as políticas públicas de incentivo à educação superior. Visando inserir cada vez mais jovens de baixa renda no ambiente acadêmico e baseados no conceito de equidade aristotélica, programas como o PROUNI, SISU e as Cotas vêm sendo implementados pelas faculdades públicas e facilitando a entrada e permanência de tais jovens nas universidades. Como de praxe e resultado de uma sociedade elitista e separatista, surgiram inúmeros críticos dos programas governamentais. O mais atacado foi o Sistema de Cotas, modalidade de ação afirmativa que prevê que 50% das vagas das faculdades públicas sejam destinadas à negros, pardos, indígenas e estudantes de escolas públicas. Os contrários ao sistema afirmavam que as cotas rebaixariam o nível educacional das universidades. Previam também que os cotistas jamais conseguiriam acompanhar o ritmo de seus colegas oriundos de escolas particulares e consequentemente desistiriam de seus cursos, e acrescentavam ainda que o sistema de cotas apenas contribuiria para aumentar a desigualdade e o ódio entre brancos e negros. Hoje, após 13 anos da primeira implementação do programa, os resultados não poderiam ter sido melhores. A UERJ analisou as notas de seus alunos durante 5 anos. Os negros tiraram, em média, 6,41. Já os não cotistas marcaram 6,37 pontos. Segundo dados do Sistema de Seleção Unificada, a nota de corte para os candidatos de ampla concorrência das vagas de medicina nas federais foi de 787,56 pontos. Para os cotistas, foi de 761,67 pontos. Diferença, portanto, de apenas 3%. Dentro desses 13 anos, o índice de alunos negros em universidades triplicou e em avaliação realizada com 500 cotistas, 91% deles já se encontram empregados. Felizmente, todos os argumentos utilizados pelos opositores foram rebatidos pela simples constatação da realidade. As políticas públicas abrem um leque de oportunidades aos inúmeros José’s de nossa sociedade. Oferecem esperança e perspectiva àqueles que pouco tempo atrás jamais as possuiriam. Tais ações são sim, necessárias em nossa conjuntura nacional e devem vigorar até que as desigualdades sejam sanadas ou significativamente diminuídas. Por ora, deve se manter os programas vigentes e investir cada vez mais em medidas de mesma modalidade, que ofereçam cada vez mais facilidades e oportunidades para os jovens. “Não se combate o racismo com palavras”, diz o sociólogo Muniz Sodré, pesquisador da UFRJ. “O que combate o racismo é a proximidade entre as diferenças.”