Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: As mídias sociais como impulsionadoras da busca pela perfeição

Redação enviada em 16/09/2018

Gottfried Leibniz, em sua obra “Ensaio de Teodiceia”, expõe sua filosofia romântica, a qual afirma que o mundo real é o melhor de todos os mundos possíveis. Contemporaneamente, o panorama das mídias sociais como fomentadoras de uma busca sofrida pela perfeição inatingível parece definitivamente contrapor as ideias otimistas do filósofo alemão. Com efeito, essa característica do mundo virtual deve ser combatida, uma vez que impulsiona traumas sociais, além de alicerçar a normalização da opressão. Em uma primeira análise, sob a ótica psicanalítica, a superação da ideia de que a finalidade das redes sociais é a exposição de uma vida perfeita e repleta de autorrealização deve ser compreendida como uma demanda social, uma vez que impacta negativamente a vida de indivíduos expostos a esse ambiente ilusório. Essa correlação pode ser explicitada pelo sofrimento de usuários dessas mídias advindo da comparação entre suas vidas e as falsas imagens que exprimem uma felicidade superlativa e inalcançável, o que promove danos à psicoesfera desses sujeitos e a transformação da vida em um sacrifício diário, devido à ansiedade arquitetada pela aparente necessidade de constante adequação da vida real à perfeição do mundo digital. Nesse sentido, a inadmissibilidade desse cenário fundamenta-se nas ideias de Loïc Wacquant, em “Prisões da Miséria”, haja vista apontar que a vida humana e seu bem-estar devem ser entendidos como eixo norteador das relações sociais, na medida em que a imposição da busca pela felicidade plena impacta negativamente a psique do corpo social, o que se afasta da proposição do autor. Dessa forma, a urgência da desconstrução desses ideais impõe-se como indubitável prioridade da sociedade. Ademais, em um segundo plano, a compactuação com a busca pela perfeição imposta pelas redes sociais deve ser combatida, uma vez que fomenta a normalização dessa conduta. Essa percepção tem origem na compreensão de que a sistemática reprodução de imagens que sustentam a sensação enganosa de felicidade máxima, em longo prazo, enraíza essa cultura artificial e coercitiva e naturaliza esse comportamento compulsivo, o que deslegitima a dignidade das vítimas que sofrem com intensas frustrações por serem constantemente enganadas por esse ambiente utópico. Nessa perspectiva, essa conjuntura social materializa as proposições de Pierre Bourdieu, em seu livro “O Poder Simbólico”, na medida em que, a partir do conceito de “Habitus”, explica que, historicamente, os pensamentos e representações são moldados e incorporados nas práticas cotidianas de modo a garantir a internalização e manutenção de determinados modelos de dominação na sociedade, como a necessidade da afirmação de uma superioridade simbólica a partir de imagens de vidas perfeitas e alegria eterna veiculadas no mundo virtual. Desse modo, a desconstrução desse cenário de autoafirmação é imprescindível para a devolução do bem-estar para sujeitos que sofrem com o constante esforço pela perfeição nessa realidade abusiva. A persistente busca pela autorrealização nas mídias sociais, portanto, consubstancia a normalização dessa realidade, em paralelo ao estabelecimento de impactos emocionais negativos nos usuários digitais. À vista disso, o Poder Executivo Federal, sob forma do Ministério da Saúde, deve promover políticas públicas de amparo psicológico às vítimas da corrida pela perfeição, por meio da capacitação de profissionais da saúde por cursos de especialização em psicologia comportamental das mídias sociais, da disponibilização, em hospitais, de um setor de apoio psicológico gratuito às vítimas dessa realidade, além da promoção de campanhas midiáticas de conscientização sobre os impactos psicológicos negativos de um ambiente virtual coercitivo, de forma a criar um novo paradigma de pensamento na sociedade a respeito desse assunto e extinguir a ilusão do ideal de perfeição. Dessa maneira, construir-se-á um corpo social mais empático, apto a proteger as vítimas do abuso das mídias sociais e, porventura, será possível viver na positividade do melhor dos mundos de Leibniz.