Durante o Renascimento, no século XVI, artistas como Michelangelo e Leonardo da Vinci realizaram estudos de anatomia para uma melhor representação do corpo humano. Hoje, cinco séculos depois, grande parte do tecido social se preocupa não apenas com a apresentação física, mas, principalmente, em propagar, por meio das mídias sociais, um cotidiano mais próximo do ideal de perfeição. Desse modo, convém analisar os meios de comunicação como motivadores dessa busca e os efeitos precípuos advindos de tal postura. Cabe pontuar, em um primeiro plano, os meios de comunicação como os responsáveis pela instauração de preferências no cenário hodierno. Segundo o sociólogo Durkheim, o fato social é tudo aquilo que é geral, externo e capaz de coagir. Nesse viés, as mídias sociais, ao mostrarem as várias tendências dos vários grupos sociais, no que diz respeito à moda, diversão ou estilo musical, acabam exercendo coação nos indivíduos, a partir da aparente perfeição presente em cada uma delas. Ou seja, publicações, sobretudo de personalidades públicas, atuam fortemente na caracterização daquilo que é tido como perfeito no imaginário popular. Dessa forma, nota-se a homogeneização de gostos e costumes no tecido social. Vale ressaltar, ainda, os impactos trazidos pelo mascaramento da realidade na mídia. Nesse sentido, e analogamente à cidade perfeita idealizada por Thomas Morus, na obra “Utopia”, grande parte da sociedade, ao ver postagens, nas redes sociais, que transbordam felicidade, idealiza uma vida caracterizada pelo sentimento de alegria em estado permanente, da qual ela não faz parte. Dessa maneira, os cidadãos passam a se sentirem frustradas, uma vez que, devido à classe social a que pertencem, acreditam não alcançarem uma vida tida como perfeita. Infere-se, portanto, a necessidade de redefinição do papel da mídia no meio social. Nessa perspectiva, é mister a atuação das instituições escolares na promoção de debates, aos discentes, acerca da diversidade de tendências na sociedade. Isso pode ser feito por meio de palestras ministradas por psicólogos e figuras públicas pertencentes à mesma faixa etária dos estudantes, as quais dissertem sobre a aparente plenitude presente em uma imagem, destacando as emoções negativas comuns aos seres humanos, com o fito de desmistificar o ideal de perfeição presente na população. Outrossim, cabe à família informar os filhos do uso das redes sociais para demonstração de felicidade, mas que ela não é uma constante. Só assim, mostrando o que há atrás das câmeras, a utopia da perfeição deixará de ser uma realidade.