Propagandas, amigos, internet, instintos e desinformação científica. Nesse contexto, a constante prática da automedicação, influenciada pelos fatores citados, revela o descaso dos brasileiros com o próprio corpo e, ainda, denota a fragilidade do sistema de saúde quanto à agilidade de funcionamento. Em face da prática do consumo de remédios por conta, nota-se que as pessoas,no senso comum, não possuem conhecimento acerca dos perigos e potencialidades nocivas que esses possuem. A utilização recorrente de medicamentos sem que se conheça o princípio ativo ou o modo de tratamento é fruto do "achismo" de que se, em algum momento, determinada substância tenha feito bem para uma pessoa, isso sempre acontecerá. Esse pensamento mostra a difusão da cultura popular sob um aspecto negativo, onde a falta de concreticidade nas informações predomina sobre os cuidados com o corpo. Sob esse prisma, o coletivismo da automedicação é fruto,também, da dificuldade de acesso aos serviços médicos, sobretudo na esfera pública. As consultas costumam levar muito tempo para ocorrerem, não há acompanhamento frequente e a carência de profissionais nas áreas mais remotas prejudica a orientação e profilaxia. Por serem condições frequentes e de ampla sabedoria do povo, a automedicação torna-se mais acessível, essencialmente quando são doenças corriqueiras, Logo, é mais viável para aquele que está doente buscar algo que o trate do que esperar pela ineficácia no processo de atendimento. Infere-se,pois, que a cultura de se automedicar, tão explícita na sociedade brasileira, decorre da precariedade da saúde pública e, especificamente, da comodidade de praticar algo comum em detrimento da busca pelo tratamento específico. Infelizmente, há, ainda, vidas que são colocadas em jogo devido a esse hábito, e só haverá mudança quando a informação e a prestação de serviço básico de saúde estiverem casadas e amplamente difundidas no país.