Título da redação:

A medicalização social

Tema de redação: As implicações da automedicação na cultura do brasileiro

Redação enviada em 22/04/2016

Os medicamentos fazem parte do cardápio dos brasileiros, tendo em vista que o modelo biomédico, que expõe que saúde é ausência de doença, embora ultrapassado, ainda vigora na sociedade. Dessa forma, a maioria da população acredita que ao fazer uso dos fármacos, sejam analgésicos, calmantes, ou vitaminas que passam em propagandas de televisão, estará promovendo sua saúde, pois eles proporcionam o bem estar. Entretanto, isso acarreta na diminuição da autonomia do cidadão em lidar com as adversidades da vida, como o estresse, o que pode implicar dependência e contribui para o agravamento de doenças comuns, como a gripe. As mudanças normais de humor frente a diferentes situações do cotidiano tornaram-se motivo para a automedicação. É comum o uso de calmantes para o estresse, medicamentos conhecidos como “tarja preta” para proporcionar o bem estar, dando a sensação de felicidade e até drogas que aumentam a concentração, como a Ritalina, geralmente utilizada por vestibulandos, muitas vezes, sem a prescrição médica. A consequência disso é a dependência, a perca da autonomia para lidar com os problemas, dado que a medicação é o que regula as emoções e as ações frente a eles. Outra causa comum para a automedicação é a busca pelo alívio rápido dos sintomas, dessa vez, de doenças como a gripe ou alergias. A demora, muitas vezes, no atendimento no serviço de saúde e os afazeres diários fazem com que o brasileiro em uma situação de enfermidade considerada comum e não perigosa, como a gripe, não procure o atendimento médico e faça o autodiagnostico. Com base nisso e aproveitando a liberdade para a compra de determinados medicamentos, pratica a automedicação, que pode ter como consequência o aumento da resistência de microrganismos, adaptados ao fármaco, como as conhecidas superbactérias e o uso do medicamento para a causa inadequada, como antibióticos para a gripe causada por vírus. Um exemplo disso foi uma pesquisa realizada pela Anvisa em 2006, revelou casos de resistência a antibióticos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), nas quais apenas 30% o antibiótico ceftriaxona fez efeito sobre as bactérias do sangue dos pacientes. Portanto, a automedicação tem consequências sociais e biológicas, como a interferência no enfrentamento das situações do cotidiano por indivíduos dependentes de determinados medicamentos e no surgimento de bactérias cada vez mais resistentes graças à adaptação aos antibióticos frequentemente utilizados. É importante fazer um maior controle sobre a venda de todos os medicamentos, através de um programa, que pode ser criado pelo Ministério da Saúde, em que as informações possam ser compartilhadas, que registre a quantidade e o tipo do medicamento comprado por pessoa nas farmácias, aliado ao SUS, para identificar os possíveis dependentes, e orientar a população sobre o uso dos fármacos, por meio da atenção básica de saúde, que está mais próxima da população, diminuindo assim, o uso excessivo de medicamentos e seus impactos.