Na literatura, os escritores utilizam um recurso conhecido como escapismo, o qual faz referência ao desejo de evasão de realidades desagradáveis. As drogas constituem uma forma de escapismo, uma vez que quem as utiliza busca fugir do que as cerca, como frustrações, doenças, dor emocional, entre outros. Seja para uso medicinal ou recreativo, essa necessidade de fugir de uma realidade por meio das drogas mostra o quão frágil é o ser humano diante das teias sociais e econômicas que regem a sociedade líquida na qual estão inseridos. A fim de explicar o que leva um indivíduo ao uso de drogas, pode-se recorrer ao conceito de modernidade líquida, desenvolvido pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Para ele, a humanidade vive numa época em que a visibilidade se concentra na lógica do consumo, do gozo e da artificialidade. Diante de um contexto em que as relações sociais são transformadas em mercadoria, compreende-se o porquê de um indivíduo entrar no mundo das drogas: isolamento social, relações familiares sem afeto, relacionamentos baseados em interesse, desigualdade social provocada por uma gestão econômica que visa o favorecimento de determinados grupos, más influências, necessidade de aceitação – em suma, busca-se a evasão de uma vida baseada em frustrações. Por conseguinte, o reflexo disso é que, segundo a Secretaria Nacional Antidrogas, um quarto dos brasileiros consome drogas e, desses, 80% atua como traficante. Logo, a droga socializou o crime. Hoje, há pessoas de todas as classes envolvidas com o tráfico - e não apenas com o uso de drogas -, já não sendo mais uma exclusividade das periferias e dos bolsões de marginalização social. Enquanto o crime organizado, financiado pelo narcotráfico, lucra com a degradação humana, a sociedade como um todo, inclusive os próprios consumidores de drogas, sofre com o avanço dos entorpecentes no país. Alguns dos problemas são o fim da unidade familiar, a evasão escolar, a dispersão de doenças (AIDS, hepatite B), além da explosão de crimes como homicídios e estupros, uma vez que o usuário não tem controle sobre seus atos. Em longo prazo, o crescente índice desses tipos de transgressão desestabiliza as relações entre o Governo e a população, desencadeando a sensação de insegurança pública e falha das autoridades em conter o problema, o que tem feito com que os “justiceiros” - indivíduos que realizam o papel da polícia de forma bastante violenta - se popularizassem. No intuito de barrar o avanço das drogas no país, o Governo deve incrementar o combate ao tráfico, fiscalizando fronteiras, e, em um trabalho conjunto com a polícia, buscar a melhor forma para desmontar o esquema de produção e venda das drogas, tudo isso aliado a propostas de emendas constitucionais que tragam mais rigor para as leis já existentes quanto à punição tanto de usuários como de traficantes. ONGs, mídias e instituições de ensino têm o papel fundamental de promover palestras e campanhas que instruam a população a respeito das consequências do uso de entorpecentes para a sociedade. Outro elo fundamental para a resolução da problemática é o trabalho feito por centros de reabilitação e ressocialização para usuários de drogas, os quais ajudam essas pessoas a superar o vício e encontrar maneiras de se restabelecer na sociedade. Essas medidas são essenciais para exterminar um verdadeiro entrave para a consolidação da sociedade que os brasileiros merecem.