A epidemia de Zika assusta boa parte da população, mas não por ser uma doença com alta taxa de mortalidade e sim por expor a um grande risco para o desenvolvimento dos fetos afetados, a microcefalia. A grande incidência de má formação cerebral, causada pelo vírus da Zika, levou o governo a procurar medidas que atenuem as consequências, como um acompanhamento atento à gestante com suspeita de estar infectada. A maioria das futuras mães de filhos microcefálicos não possuem condições de dar uma vida digna ao filho, o que abre questões éticas quanto ao aborto. A Zika provocou um aumento na atenção à saúde em áreas periféricas do Brasil, tais como o sertão nordestino, ou a selva amazônica. Uma causa dessa atenção é o propósito de conter a epidemia, a outra é o tratamento preventivo às crianças afetadas, para amenizar os efeitos da doença ao longo da vida do bebê. A epidemia de Zika é um motivo a mais para a luta das mulheres pelo aborto, com o argumento de que ninguém deveria ser obrigada a sustentar uma criança que nunca será capaz de viver uma vida normal. Mesmo sendo tipificado como crime no Código Penal, muitas gestantes procuram clínicas clandestinas e correm risco de vida, pois essas clínicas não possuem a estrutura e qualidade de um hospital. A microcefalia provocada pelo vírus da Zika traz atenção para as gestantes afetadas, mas o mais impactante na sociedade foi aumentar os holofotes para a questão do aborto. Os cuidados e custos de um filho microcefálico podem levar até uma família em boas condições à ruína, não seria humano condenar uma família inteira à uma vida de necessidade e uma criança deficiente à uma qualidade de vida muito baixa. É muito importante dar a opção humana de um aborto seguro para essa gestante que tem como única alternativa hoje uma clínica clandestina.