Parte constituinte do livro “A República”, de Platão, a “Alegoria da Caverna” narra a vida de pessoas que se encontram acorrentadas em uma caverna desde o nascimento, sendo impossibilitadas de conhecer a realidade do mundo em que vive. De maneira análoga à metáfora filosófica, as bolhas sociais, no Brasil, criam uma realidade própria ao individuo, que, na sociedade contemporânea, torna-o intolerante com as diferenças que o cerca. Nesse sentido, convém analisar as causas e consequências de tal problemática para a sociedade. Em primeira analise, cabe pontuar que as bolhas sociais estão em constante crescimento, visto que, hodiernamente, possuem uma relação direta com o uso de determinados meios de comunicação, com destaque para a internet que possibilita ampla interação entre pessoas que possuem pensamentos semelhantes, por intermédio de plataformas como o Facebook e o Youtube. Todavia, tais interações, em alguns casos, possibilitam o surgimento e a persistência de ideais intolerantes, os quais agridem a dignidade de determinados grupos existentes na contemporaneidade nacional. Comprova-se isso por meio de dados da Central Nacional de Denúncias e Crimes Cibernéticos, em que é possível notar que em 11 anos foram recebidas cerca de 4 milhões de denúncias relacionadas a crimes de ódio na internet. Desse modo, vê-se que há a necessidade de buscar meios para atenuar tal impasse. Ademais, convém frisar que a ampliação de bolhas sociais trouxe como principal consequência a polarização política no Brasil. Diante disso, observa-se que grupos extremistas que detêm o controle de diversas páginas em redes sociais, a fim de fortalecer sua bolha, recorrem à divulgação de publicações ofensivas aos seus opositores e, também, à criação de notícias falsas que manipulam seus seguidores, tornando-os potenciais disseminadores de “fake news”. Uma prova disso está em um levantamento feito por um grupo de pesquisa da USP, em que é possível observar que cerca de 12 milhões de brasileiros já difundiram notícias falsas sobre política. Dessa forma, percebe-se que as bolhas sociais causam sérias consequências para a sociedade brasileira, uma vez que dividem a nação, evitando o diálogo para se chegar ao bem comum. Destarte, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver esse impasse. É imprescindível que o Ministério da Educação crie projetos educacionais que visem desenvolver a criticidade da população acerca das bolhas sociais, por meio de palestras e debates nas escolas, com a participação de pais e familiares. Além disso, urge a necessidade de alertar sobre o compartilhamento indevido de notícias falsas, mostrando as consequências e formas de evitar tal atitude, com o propósito de que o tecido social, enfim, se liberte das correntes da ignorância e descubra, assim como o prisioneiro liberto da “caverna de Platão”, que o mundo é mais complexo fora de sua bolha.