Caetano Veloso, expoente da Tropicália, escreveu em uma de suas canções, "Narciso acha feio o que não é espelho". Nesse contexto, evidencia-se o individualismo e a indiferença humana perante às adversidades que compõem a esfera social, contribuindo, por conseguinte, para edificação de uma cultura pátria embasada em ideais de intolerância, incapaz de fornecer aos seus cidadãos um sentimento de nacionalismo e liberdade de expressão. Hodiernamente, a população brasileira está circunscrita ao mundo virtual e à forma como a realidade é expressa nesse meio. Por ser um ser social, como descreve Aristóteles, filósofo grego, o homem necessita estar cercado de pessoas que compartilhem das suas perspectivas e sentimentos, levando-os a uma sensação de pertencimento. Conquanto, à medida que o ambiente "on-line" proporciona essa impressão, ele blinda seus usuários de opiniões adversas, inserindo-os em um mundo fictício, onde as diferenças são vistas como algo anormal. Consoante o renascentista Michel Montaigne propõe em seus ensaios que, os homens condenam aquilo que lhes é estranho, demonstrando o caráter intolerante que envolve a sociedade. Outrossim, essa cortina que cega os internautas reflete diretamente nas relações acerca do mundo real, desencadeando conflitos ideológicos, nos quais não há uma tentativa de refletir sobre ideias divergentes, uma vez que os indivíduos se encontram bloqueados pelos seus preconceitos. Nesse cenário, a dialética proposta por Sócrates, pensador grego, como forma de debater e chegar a um consenso, é marginalizada, levando consigo a chance de construir uma sociedade harmoniosa e capaz de lidar com as alteridades que a constitui. Dessarte, indubitavelmente, medidas são necessárias para construção de uma cultura nacional que abranja a diversidade de pensamento. O Ministério da Educação deve implantar nas escolas projetos que promovam palestras com pensadores contemporâneos, expondo a importância de construir uma sociedade embasada em preceitos igualitários, na qual todos os seus indivíduos possam, sem repressão, expressar seus ideais, desde que os mesmos respeitem os direitos alheios. Dessa forma, os educandos serão imersos em uma realidade onde as divergências contribuem para formação de um caráter nacional integrador e de cidadãos que não serão manipulados pelo mundo virtual. Assim, o espelho do Brasil refletirá uma sociedade altruísta e acolhedora.