O homem vive em sociedade há mais tempo do que o estudo da história pôde decifrar por meio dos achados arqueológicos, já que a maioria das pinturas rupestres ilustra que o homem, desde aquela época, era incapaz de viver sozinho. No entanto, essa característica essencialmente humana, aliada à tecnologia, transformou os círculos de convivência em bolhas criadas pelos administradores de redes sociais e os integrantes desse círculo em pessoas intolerantes, principalmente no Brasil, que é um país com dimensões continentais e repleto de culturas diferentes entre si. Segundo o filme Matrix, o mundo perceptível é uma ilusão criada pelos sentidos. Essa ideia, baseada no conceito de mundo sensível de Platão, é aplicável ao mundo criado pelas redes sociais para alimentar um número cada vez maior de pessoas conectadas, já que no Brasil, consoante a BBC Brasil, 130 milhões de brasileiros têm acesso às redes sociais e o faz por mais de 9 horas por dia, em média. Conforme a revista Forbes, algoritmos calculam o que aparece nos feeds de notícia, e esse conteúdo é resultado de uma vigilância constante de tudo o que se faz na internet. Portanto, as redes sociais são moldadas ao gosto do usuário sem que ele tenha consciência disso e criam um mundo irreal para pessoas cada vez mais dependentes da tecnologia. Outro paralelo possível de ser estabelecido é com Alegoria da caverna, que ajuda explicar a intolerância contra opiniões divergentes e contra demais culturas. Nesse mito, a pessoa que apresenta uma nova realidade aos que não se libertaram da caverna não mais é aceita no grupo, representando que não seria possível uma pessoa conhecer aquilo que não faz parte da realidade dela. Diante disso, formam-se cidadãos sem senso crítico aos assuntos que não lhes convém, mas que emitem opiniões agressivas quando encontram outras, divergentes das deles, diz a psicóloga da USP Ana Olmos. No contexto brasileiro, multicultural, é possível encontrar nas redes sociais discursos de ódio e julgamentos de ações em que os agressores sequer conhecem a realidade do agredido. Ademais, por não saberem sobre o que estão falando, essas pessoas são incapazes de contribuir para uma solução efetiva aos problemas sociais brasileiros, sendo somente propagadores de ódio. Portanto, o problema é complexo e necessita de intervenções em diversas esferas, e as principais devem ocorrer nos âmbitos familiar e escolar, onde a criança deve receber estímulos por parte dos pais e dos educadores para estabelecerem vínculos sociais com outras crianças e não passarem tanto tempo em frente ao computador. Dessa forma, as próximas gerações passarão a ter o convívio harmonioso e o respeito como aspectos naturais da sociedade.