Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: As causas da violência nos estádios de futebol

Redação enviada em 02/09/2018

Em diversos países o esporte está intrinsecamente ligado à identidade nacional, como o basquete nos Estados Unidos, o hóquei no Canadá ou o rúgbi na Austrália. No que concerne ao Brasil, a situação não é diferente: em solo tupiniquim, o futebol é a expressão maior do “caldo” cultural e afetivo dos brasileiros, enraizado no cotidiano da população. No entanto, a persistência da violência nos estádios impele a coletividade a rever certos paradigmas deletérios para esse patrimônio imaterial, quais sejam a necessidade de afirmação masculina, por meio do esporte, e o fanatismo violento quando associado à sensação de impunidade. É elementar que leve em consideração, primeiramente, o viés cultural de expressão da masculinidade pela via esportiva como causa imediata da problemática. Nesse sentido, é preciso buscar o enredo para a compreensão desse fator no regime patriarcal vigente durante a construção da identidade brasileira. Nessa esteira, os “clubes de coronéis”, caracterizados por jogatinas, desavenças e consumo alcoólico em demasia, já expressavam o que, hodiernamente, transfigurou-se nos estádios de futebol: espaços para corroborar o “cromossomo Y” sob o aval da violência. Tal prática vai de encontro ao conceito weberiano de monopólio da força pelo Estado, visto que o indivíduo concede a si próprio o direito- inexistente- de oprimir os adversários ou aliados em uma hierarquia social fictícia no estádio, na qual não há, segundo a égide do desertor, o império da justiça desse Estado, único dotado de poder coercitivo. Evidencia-se, assim, que a naturalização do processo de autoafirmação futebolística urge ser extirpada, sob pena de comprometer os ideais de cooperação do futebol. Em segundo lugar, mas não menos importante, é imperioso citar a indistinção entre o lúdico e o violento- causada principalmente pelo fanatismo exacerbado do torcedor- como impulsionadora do trágico cenário vivido nos estádios atualmente. Nessa esteira, a má gestão da paixão, da união das torcidas organizadas e da flamejante sensação de fazer parte de uma estrutura dotada de poder- o clube de futebol- acaba por autorizar, na visão do infrator, o regresso a um estado de natureza hobbesiano, no qual se verifica a predominância do caos, da força e do conflito, para subjugar os demais espectadores da partida futebolística. Outrossim, ao contrapor o Equilíbrio Aristotélico- a virtude de buscar o meio-termo entre o excesso e a falta- o cidadão, em muitos casos, tão logo coaduna com violência hiperplásica, já sente a impunidade como um produto associado, dado que são poucas as punições aplicadas pelo Poder Judiciário nesses casos, consoante relatório do CNJ em 2016, por conseguinte, há o recrudescimento desse barbarismo. Com efeito, a falta de limites pela subjetividade do sujeito só pode ser suplantada, e urgentemente, por intermédio da coercibilidade estatal. São necessárias, por fim, medidas que alterem esse descompasso existente no futebol brasileiro, protagonizado de modo selvagem nos estádios pelo país. Assim sendo, impende que o Ministério do Esporte solicite ao Congresso Nacional a aprovação de duas normas: a criação de um cadastro de torcedores violentos, caso sejam identificados em confusões, a fim de que não possam retornar por certo tempo ao clube em questão e suscite, por isso, a reflexão antes da prática violenta. Analogamente, para que ocorra maior punição, deve ser prevista em tal solicitação ao Legislativo a criação de seções de julgamento para esses casos nos tribunais, acelerando a averiguação dos delitos, com o fito de reduzir a sensação de impunidade hoje existente. Postas em prática tais ações, o futebol estará mais próximo do ideal representativo que carrega, a receptividade e alegria do brasileiro.