Desde o Império Romano, a violência era vista como uma forma de lazer para a população. Diante desse cenário, batalhas desprovidas de qualquer humanidade entre gladiadores no Coliseu, em Roma, se tornaram um grande entretenimento para cidadãos de todas as classes, além das expedições militares de Caio Júlio Cesar na Gália, atual França, serem consideradas lendárias. No entanto, quase dois milênios após os exemplos citados, ainda existe um culto à violência, que encontra no Brasil o cenário perfeito para sua propagação por meio do esporte, graças à realidade violenta do país e a certeza da impunidade. Primeiramente, torna-se necessário destacar que as situações de violência ocorridas em um estádio de futebol são apenas um reflexo da sociedade que o cerca. O esporte bretão não é uma atividade isolada do ambiente na qual é realizada, portanto, se racismo, agressões físicas, homofobia, machismo e até mortes fazem parte do cotidiano futebolístico, significa que esses problemas não são exclusivos do mesmo, mas sim uma realidade generalizada e vivida diariamente pela população. Além disso, a própria mídia, ao usar diversos termos que fazem alusão à guerra na promoção de partidas e em comentários de jogadas, indiretamente impulsiona o sentimento de rivalidade entre as torcidas, que passam a encarar as partidas como um combate e ver o adversário como um inimigo, o que acaba por garantir um caráter bélico ao jogo. Ademais, a certeza da impunidade dessas ações hostis favorece o uso do esporte mais famoso do país como meio de propagar a violência. De acordo com o sociólogo Maurício Murad, autor do livro “Para entender a violência no Futebol”, apenas 3% dos delitos ocorridos no ambiente do futebol foram punidos nos últimos dois anos. Esse panorama possibilita que criminosos se infiltrem nas torcidas para praticar crimes, pois a certeza da impunidade, factível pela dificuldade de identificação de torcedores nas multidões, torna esse ambiente perfeito para cometer atrocidades. Os órgãos públicos e esportivos, com a impossibilidade de punir os responsáveis, pune os clubes, medida que em nada altera a realidade e que escancara a ineficiência do Estado em proteger seus cidadãos e punir os verdadeiros criminosos. Portanto, é evidente que a violência em estádios de futebol é causada pelos problemas enfrentados pela população brasileira fora deles. Urge ao governo, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, blindar os estádios dessa realidade, podendo basear-se na Inglaterra, que após sofrer por décadas com os chamados “Hooligans”, fez o cadastramento de torcedores, o uso de reforço policial e expulsão temporária aos que desviarem da pacificidade entre os jogos como forma de combate-los. Além de tudo, a mídia e os clubes podem promover campanhas de conscientização ao público, a fim de que o Maracanã deixe de ser visto como o Coliseu dos tempos modernos.