Para o filósofo e historiador Leandro Karnal, a vida ética é mais fácil pois evita mentiras, confusões, multas e danos morais. Nesse ínterim, podem ser retratados o "jeitinho brasileiro" e o individualismo enraizados culturalmente na sociedade contemporânea brasileira, a saber que sonegações de impostos de renda, gatos de energia, colas em exames escolares e vantagem em filas são práticas cotidianas de boa parcela dos brasileiros. Afinal, os desvios éticos não são visíveis apenas no âmbito político por meio da corrupção, tais transgressões fazem parte da vida de um povo. Nesse contexto, o Brasil passou por escândalos éticos desde o seu período colonial, como explícito na obra Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre, pela relação desigual de senhor e de escravo. Na contemporaneidade, a falta de ética também foi ilustrada na série O Mecanismo, divulgada pela Netflix em 2018, a temporada retrata toda a investigação da Polícia Federal sobre a investigação da Lava Jato, que envolvia políticos e doleiros que desviavam dinheiro público. Contudo, de modo sutil, a série constata que esse mecanismo não pertence apenas aos representantes políticos e grandes empresários, mas, principalmente nas pequenas cidades, nas companhias de água e energia. Ou seja, é reafirmada a necessidade cultural do brasileiro de dar-se bem. Ademais, "a família é o ponto de partida da formação ética", de acordo com o filósofo Mário Sérgio Cortella. Com a urgência dos valores éticos, é notório que os pais demonstram para os filhos, princípios morais deturpados, não se atentando ao fato de que os filhos deles são seres em formação. Desse modo, as crianças crescem observando os pais mentirem para faltarem dias de trabalho, queimarem lixo ao entardecer, jogarem resíduos nos rios e arremessarem embalagens de balas pela janela do carro. Aliás, o mais persuasivo ensino moral deveria ser o exemplo familiar, já que os pais são os primeiros professores da criança. Infere-se, portanto, para que o Brasil supere essa cultura danosa causada pela ausência de valores éticos, cabe ao Ministério da Educação incentivar as instituições de ensino, por meio de licitações, com o intuito de que as escolas públicas promovam palestras de discussões sobre o tema com os professores de filosofia e sociologia, a fim de ensinarem os alunos a refletirem sobre as consequências de atitudes antiéticas para as gerações futuras e, posteriormente, alterarem as ações deles. Somente assim, os desvios familiares e sociais serão superados e a vida dos brasileiros se tornara fácil, como já afirma Karnal.