"Não serei o poeta de um mundo caduco", afirmou Drummond na obra "Sentimento do Mundo". Nesse contexto, fica evidente a insatisfação do autor diante da máquina de um mundo ensandecido e caduco, cujas engrenagens impõem-se de maneira dominante, autoritária e inexorável. Talvez, hoje, ele enaltecesse ainda mais a afirmação: a postura dos brasileiros acerca do vilipêndio da ética é uma das faces mais preocupantes de uma sociedade em desenvolvimento. Por essa razão, faz-se necessário pautar as causas que colaboram com essa postura, as quais são o individualismo antrópico e um governo inobservante ao Contrato Social. A princípio, o sociólogo Zygmunt Bauman defende, em "Modernidade Líquida", que o individualismo é uma das principais características - e o maior conflito - da sociedade pós-moderna. Esse conceito, portanto, pode ser visualizado pelo vilipêndio da ética no Brasil, já que o brasileiro, ao estar imerso nesse panorama líquido, acaba por reduzir o olhar sobre o bem-estar do próximo. Sob tal ótica, essa teoria baumaniana é um fator motivador de práticas antiéticas, uma vez que a grande parte da população rompe com a moral, desrespeitando as leis, para obter interesses pessoais. Sendo assim, essas práticas se tornam comuns no dia a dia do cidadão, levando o Brasil a ocupar o pior lugar no ranking mundial de corrupção, de acordo com o site "Valor". Desse modo, um possível caminho para combater a desvalorização da ética no país é desconstruir o principal problema da pós-modernidade, segundo Bauman: o individualismo antrópico. Sob essa perspectiva, o Contrato Social, estabelecido por Rousseau, disserta acerca da importância da atuação do Estado para garantir o bem-estar social. Todavia, as nefastas políticas públicas que visam coibir o vilipêndio da ética no Brasil, como campanhas de conscientização, realizadas pelo Ministério da Educação (MEC), fomentam a permanência desse impasse, posto que o menosprezo com a moral está enraizado na sociedade. Por isso, há recordes de denúncias no "Disque Denúncia" de Pernambuco a respeito da infração à cláusula pétrea de Perturbação ao Sossego, conforme o "Diário de Pernambuco", por causa da ausência da ética da população com as leis, o que comprova a ineficácia dessas políticas públicas. Contudo, embora caótica, essa situação é mutável. Diante dos fatos supracitados, é imprescindível que o MEC debata o conceito defendido por Bauman e as consequências sociais, por meio de palestras ministradas por psicopedagogos nas escolas, com o intuito de desconstruir o individualismo antrópico, para que os valores éticos sejam postos em prática, aumentando a empatia com o próximo e diminuindo a corrupção no país. Ademais, o Ministério da Fazenda deve elaborar um plano econômico capaz de dinamizar a economia e gerar recursos, mediante a ajuda de economistas, a fim de aprimorar as campanhas de conscientização, trazendo dados estatísticos e depoimentos de vítimas de práticas antiéticas, objetivando o cumprimento das leis e mitigar realidades iguais a que foi exposta pelo "Diário de Pernambuco". Assim, a postura dos brasileiros modificar-se-á, o vilipêndio da ética será atenuado, tornando o Brasil um país plácido e lúcido, o qual Drummond pudesse valorizar.