É notória a inversão de valores presente na sociedade brasileira, cuja percepção de “pessoa esperta” corresponde àquela que infringe valores éticos em benefício próprio e as que seguem as regras morais e legais são consideradas estultas. Essa falta de respeito às regras e aos direitos alheios pode parecer inofensiva se realizada em pequenos atos, mas esse comportamento reflete na política e no sistema governamental, pois políticos, servidores e funcionários públicos também fazem parte da sociedade. Primeiramente, as sucessivas investigações e escândalos envolvendo políticos têm posto à luz a chaga que há muito tempo consume os recursos públicos. No entanto, embora a população reprove a corrupção, é recorrente a venda de votos por promessas, galões de combustível, cargos e outras ilegalidades, o que responde, em parte, a reeleição de políticos que colecionam processos judiciais. Com isso, sem haver mudanças por parte da própria população, a corrupção tende a se arraigar. Em segundo, apesar de haver maior consciência da população sobre o que seriam atos antiéticos, o egoísmo sobressai em detrimento do senso de empatia e responsabilidade. Essa prática vai de encontro à ação de Sócrates, que preferiu ser injustiçado e morto do que cometer uma injustiça e negar suas crenças. Hodiernamente, a corrosão da virtude pode ser vista em diversas ocasiões, desde alunos que “colam” em prova, até a concessão de contratos públicos desconsiderando os princípios da isonomia, eficiência e eficácia. Essas práticas não apenas despendem recursos públicos, como também fragilizam a igualdade, o desenvolvimento e os bons valores. Destarte, apesar da desvalorização da ética atualmente, sua presença tornaria a sociedade mais segura e justa. Todavia, é necessário mudanças comportamentais desde a base da sociedade, com a ajuda dos profissionais da educação e pais para valorizar ações virtuosas de crianças e jovens, quanto a rigorosidade da Justiça em aplicar penas e recuperar os recursos desviados pela corrupção, e a efetiva ascensão de pessoas probas nas cadeiras públicas.