No Brasil, tornou-se comum acreditar na errônea ideia de que os fins, independentemente dos meios, são justificáveis. Essa assertiva é levada ao ápice no que tange ao uso de agrotóxicos no país, que em razão de sua tradição agrária, possuí uma tendência a ser mais permissivo em relação a esses compostos. O uso exacerbado dos agrotóxicos, no entanto, conduz à contaminação do meio ambiente e, muitas vezes, da própria população, fator que inclui esse paradigma na pauta de desafios a serem corrigidos pela sociedade brasileira. A priori, é preciso ressaltar o efeito reverso deflagrado pelos pesticidas em relação ao controle de insetos invasores. Quando esses compostos, como a abamectina, são utilizados em demasia, espécies mais resistentes são selecionadas e, por conseguinte, disseminam insetos de linhagens mutantes. Nesse cenário, toda a estrutura de cadeias alimentares pode ser alterada, o que compromete o meio ambiente ao redor da safra e, a longo prazo, interfere na própria plantação, de modo a constituir um efeito " bola de neve " extremamente prejudicial à natureza. Sob uma ótica mais aprofundada, convém salientar as consequências do uso de agrotóxicos na própria saúde humana. Casos com o ocorrido em Rio Verde ( GO ), no ano de 2013, em que uma escola inteira foi contaminada por agrotóxicos , são comuns em todo o Brasil, mesmo sem o noticiamento apropriado da mídia. Essas substâncias, de acordo com o INCA, estão atreladas ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como o de pele e o de tireoide, e a sua exposição constante pode configurar-se como uma intoxicação crônica, na qual os sintomas persistem pelo resto da vida. Diante dos fatos, cabe o questionamento: quem paga o preço pelo uso exacerbado dessas substâncias? Destarte, a questão dos agrotóxicos mostrou-se complexa, uma vez que seu contraponto ( produtividade ) deve também ser analisado. A mobilização, a princípio, deve partir da sociedade civil, maior vítima do consumo de produtos com agrotóxicos, por meio de protestos e passeatas. O governo, na iminência de clamor popular, deve fiscalizar com maior rigor sobre os limites para o uso de agrotóxicos, mas também precisa, em contrapartida, investir em pesquisas, a fim de procurar alternativas que não comprometam a produtividade das lavouras. Assim sendo, ter-se-á um ambiente propício para que os agrotóxicos saiam da pauta de problemas recorrentes do país.