"Dói mais uma dor de dente que uma guerra na China". Haja vista a afirmação de Eça de Queiroz, as problemáticas pessoais se sobrepõem às mazelas do globo. No contexto atual, isso reflete-se no que tange à crise dos refugiados. Em primeira análise, a relação do número de pessoas que, devido à guerra da Síria, saem de seus países de origem em busca de abrigo e que são acolhidas pela Europa é cada vez menor. Isso deve-se ao fato dessa região ser marcada históricamente pelas raízes da xenofobia, fomentada por discursos nacionalistas de extrema direita, cuja errônea visão de "superioridade" é disseminada à população. Em consequência disso, o refugiado é visto como uma ameaça à economia nacional, aos privilégios dos cidadãos e ao bem estar social , de modo que a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 que visam ampará-lo sejam negligenciados. Ademais, a ameaça ao terrorismo tem contribuído para essa conjuntura. O relato de que mais de quatro mil terroristas estiveram infiltrados entre aqueles que partiram em busca de asilo - publicado pelo jornal O Dia - tem concebido a equivocada associação entre islamismo e terrorismo, cujos países adotaram políticas anti-imigração como muros nas fronteiras, adesão ao acordo com a Turquia a fim de conter o fluxo migratório de tal maneira que as nações mais pobres são as que mais prestam auxílio segundo a Agência da ONU para Refugiados. Tendo em vista os fatos supracitados, é evidente que o impasse é bem mais grave do que parece. A fim de assegurar o direito de refúgio, o Alto Comissariado da ONU deve promover parcerias com os setores educacionais de cada país através de reformas curriculares que viabilizem o contato cada vez mais cedo com diferentes culturas como o islamismo, com a finalidade de desenvolver a alteridade e atenuar a xenofobia. Além disso, estipular limite de acolhimento para cada país para que haja melhor controle dos abrigados e o compartilhamento das responsabilidades, pois, dessa forma, a constatação de Eça de Queiroz começará a ser desconstruída.