Título da redação:

A crítica de Adolfo

Tema de redação: A relevância do debate acerca do assédio sexual no Brasil

Redação enviada em 21/10/2017

Adolfo Caminha, em seu livro “A normalista” do século XIX, retratou não somente o assédio sexual, mas também o estupro da protagonista pelo seu padrinho, a fim de criticar os péssimos costumes de sua época. Dois séculos depois, esse problema ainda persiste na sociedade brasileira. Nesse prisma, vê-se amplamente cabível dialogar sobre o assédio, haja vista a ótica preconceituosa lançada nas vítimas, bem como a difusão cultural que comungam para a manutenção desse óbice no país. Em primeira instância, é essencial encorajar a denúncia. Sob esse viés, por conta de a culpabilidade do assédio ser direcionada às vítimas, em sua maioria mulheres, intensifica a cultura do medo e, consequentemente, diminui a queixa. Nesse contexto, em 2016, os números de assédios relatados remetiam apenas a 15% dos acontecidos, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. De fato, esse estigma tem raízes históricas, pois durante a Ditadura Militar no Brasil, por exemplo, era propagada a frase: “prendam as cabras que os bodes estão soltos”. Por conseguinte, essa máxima representa a responsabilidade associada às mulheres em caso de assédio, uma vez que refletia o fraco apoio à denúncia, já que ainda preponderava o medo. infelizmente, na atualidade o cenário não é tão distinto. Ademais, dissolver a cultura machista requer discussão para amenizá-la. Em tal tocante, a ausência quase total de medidas educativas em âmbito escolar e doméstico promovem a normalização desses atos perante à sociedade. Em verdade, Vygotsky, psicólogo bielorrusso, afirmou: “o comportamento do homem é formado por peculiaridades e condições sociais do seu crescimento”. Logo, se durante o desenvolvimento das crianças for estimulado o aprendizado de práticas machistas e de assédio, subsequentemente, criará jovens que acreditam nessa maneira como correta. Em dissonância, caso a educação escolar e caseira dialogue sobre o assédio, construirá a base sadia das futuras atitudes desses indivíduos. Sendo assim, essa mazela tem suas raízes histórico-culturais e precisa ser modificada. Então, é impreterível, portanto, que a mídia estimule a queixa das vítimas, por meio de propagandas televisivas que mostrem denúncias de casos reais com pessoas que passaram pelo mesmo percalço, no intuito de promover a mobilização social. Além disso, faz-se imperioso que o Ministério da Educação difunda o conhecimento das práticas de assédio, por intermédio de palestras nas escolas promovidas pela secretaria de educação contando com a família dos alunos, com o fito de instruir as crianças e responsáveis a não praticarem esses atos. Desse modo, talvez menos escritores critiquem casos como o de Adolfo Caminha.