Atestando o adágio do poeta inglês William Wordsworth, o qual afirma que o menino é o pai do homem, Machado de Assis destacou, na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, um único capítulo para tratar da importância da infância para a formação do indivíduo. Entretanto, de forma antagônica à arte literária, a realidade brasileira evidencia que a relevância desse estágio humano na formação do cidadão está sendo ignorada. Diante disso, deve-se analisar o impacto da tecnologia e da atuação do Estado na problemática em questão. A princípio, convém destacar que o uso indiscriminado das ferramentas tecnológicas na infância prejudica o desenvolvimento de hábitos primordiais à cidadania. Tal fato é percebido no ensinamento de comportamentos antissociais, possibilitado pela exposição exacerbada a jogos e filmes, sem o controle dos pais que, na maioria das vezes, optam pela alienação. Posto disso, as crianças, ao internalizar modos de agir normatizados pelo seu cotidiano virtual cria, conforme a Teoria do Habitus de Pierre de Bourdieu, uma perspectiva egocêntrica da realidade que compromete as futuras interações na sociedade. Atrelada a essa questão pilar, é notório que a inobservância do poder público na educação infantil representa um risco ao bom proveito dessa fase etária. Isso ocorre porque, conforme definido pelo psicólogo Jean Piaget, o progresso cognitivo de uma criança é uma evolução gradativa baseada nos estímulos ambientais. Sob essa ótica, a incapacidade das instituições públicas de alcançar o mínimo em práticas esportivas, artísticas e sociais compromete o potencial humano de cada infante. Por conseguinte, as aptidões que poderiam ser trabalhadas em prol de uma ascensão social passam a ser descartadas. Diante dos argumentos supracitados, faz-se necessário que a escola busque chamar a atenção dos pais para a exposição dos seus filhos à tecnologia, promovendo reuniões aos fins de semana para debater a questão ao mesmo tempo que, mediante a criação de um calendário com atividade lúdicas– campeonatos esportivos, por exemplo–convide o aluno e sua família para uma interação mais frequente com o fito de desenvolver a noção de atuação coletiva nas crianças. Outrossim, o Estado deve investir na estimulação do desenvolvimento infantil destinando, por meio do Ministério da Educação, verbas para a construção de parques, quadras esportivas e oficinas artísticas com o propósito de enriquecer o dia-a-dia dos estudantes, possibilitando a completa evolução piagetiana. Assim a infância terá o valor dado por Brás Cubas.