A expressão “Ordem e Progresso”, abreviação do lema de Auguste Comte, se encontra na bandeira de um país onde o cuidado e a educação na infância são muitas vezes negligenciados. Considerando essa incoerência, nunca é inoportuno ressaltar que, de acordo com James J. Heckman, o investimento na primeira infância é o caminho mais lógico para reduzir os custos sociais e promover o crescimento da economia. Assim, manifesta-se inerentemente a realidade pátria, como fruto tanto da precariedade da educação pública quanto do descaso governamental, a questão da necessidade de garantir uma infância saudável para a formação de bons cidadãos. Convém salientar, a princípio, que a falta de interesse do governo é, de maneira irrefutável, um fomentador da negligência em relação a infância. Conforme a corrente positivista, que auxiliou na proclamação, a república deve “conservar melhorando”, isto é, conservar e aperfeiçoar aquilo que existe de bom (Ordem) por meio da correção e eliminação daquilo que é ruim (Progresso). Dessa maneira, o Estado, visando cumprir com os objetivos da Constituição (artigo terceiro), deve tratar com maior rigor e seriedade os casos de maus-tratos infantis, tendo em conta que são recorrentes os casos de crianças, em todo o território nacional, fora da escola e em ambientes insalubres que prejudicam a fundação do caráter cognitivo e de habilidades essenciais ao sucesso na vida. Com isso, contribuindo para a persistência no Brasil, evidencia-se a falta de atenção das entidades governamentais aos casos de maus-tratos na infância como sustentáculo da má-formação de cidadãos. Outrossim, deve-se considerar a postura do chinês Confúcio, “se queres prever o futuro, estuda o passado”, ao se analisar a causalidade entre a precariedade da educação pública básica e a deficiência sociocultural brasileira. Percebe-se, no decorrer da consolidação da República, que a referida relação demonstrou-se associada a vários episódios dentre os quais, cita-se a elevada criminalidade nas regiões periféricas das grandes cidades. De acordo com essa perspectiva, é importante situar que, nesse contexto, observa-se a deficiência do sistema de ensino básico, sendo fundamental a análise de tais fatos para o tratamento da atual situação nacional. Desse modo, evidencia-se a necessidade de se estudar acontecimentos dessa natureza objetivando melhorar a formação dos cidadãos brasileiros. Compreende-se, no alicerce dos casos de má-formação da cidadania, portanto, os maus-tratos e a educação deficiente na primeira infância. Para amenizar esse quadro, a concepção aristotélica de que “o homem é o princípio das ações” mostra ser fundamental a mobilização da sociedade civil em manifestações pacíficas nas ruas exigindo a ação do Estado e que as emissoras de televisão elaborem campanhas de abrangência nacional expondo estudos históricos sobre a nocividade de uma educação precária na infância, bem como práticas que promovam o seu combate, além da implementação de um novo sistema punitivo para os maus-tratos infantis, planejado pelo Ministério da Justiça. Dessa forma, as propostas de Aristóteles e Confúcio permitirão o avanço da Ordem e do Progresso no país.