Legislação fundamental e suprema do Brasil, a Constituição Federal de 1988 pugna, especialmente no décimo quarto artigo, pelo pleno exercício da soberania popular, por meio do sufrágio universal. Tal papel, entretanto, foi ampliado e manifestado em épocas de necessária contestação – nesse bojo, o "movimento dos caras pintadas", em 1992, e as "passeatas dos 20 centavos", em 2013, são exemplos. Hoje, em virtude das crises que assolam os setores econômico e político, faz-se urgente o despertar desse pensamento cívico e consciente, adormecido na era digital e no modelo educacional vigente. O "ensino bancário", definido e combatido pelo educador Paulo Freire, estabelece-se de forma unânime no país. Nesse sentido, os professores são apenas fornecedores de conteúdo para seres passivos e desprovidos de inteligência. Por conseguinte, as instituições acomodam os estudantes em um universo unilateral, destinado à pura aprovação em vestibular, bem como suprimem a formação da capacidade crítica da geração, incapaz de questionar medidas prejudiciais. Além do mais, a internet enfrenta o período da "pós-verdade". Nesse cenário – imerso em individualismo, instabilidade e exclusão social, brilhantemente definidos por Zygmunt Bauman como "Modernidade Líquida" –, a disseminação de notícias falsas ganha terreno. A opinião, nesse contexto, é impulsionada exclusivamente pelas emoções e pela polarização política. Os debates, sobretudo, recebem aspectos rasos e pouco embasados. Dessarte, relativamente a tamanho dilema, urge que o Ministério da Educação, em concomitância com os órgãos responsáveis nas esferas estadual e municipal, devem introduzir atividades voltadas para análise e debate na escola, visando discutir temas polêmicos da conjuntura político-social, nas quais os alunos pesquisem, argumentem e desenvolvam o senso crítico. Ademais, o Ministério das Comunicações deve propagar campanhas nos canais abertos, a fim de salientar a necessidade de questionar e verificar a veracidade das informações fornecidas arbitrariamente, na intenção de incentivar a busca por conteúdo e por opiniões múltiplas. Assim, nos trilhos da democracia, o décimo quarto artigo será mais que cumprido.