Em momentos de crise econômica, a insatisfação popular com o poder público fica mais evidente. Nesses momentos, a precariedade dos serviços públicos e as falhas do sistema político vigente são realçadas, motivando a realização de manifestações, como aquelas ocorridas em 2013 no Brasil. Entretanto, a construção de uma consciência política que resulte em medidas concretas de melhoria na vida da população passa primeiro por uma organização política formal e focada em reivindicações claras e pragmáticas. As manifestações de 2013 revelaram um descontentamento geral da população com a classe política. Entretanto, tais atos, apesar de espontâneos, foram caracterizados por uma heterogeneidade ideológica grande e pela falta de foco nos pleitos populares. Ao mesmo tempo em que havia protestantes a favor de uma intervenção militar, também estavam presentes pessoas com reivindicações de natureza democrática, como a melhoria dos serviços públicos e a melhor distribuição de renda e oportunidades. Tal falta de foco resultou em respostas tímidas e pontuais por parte do mundo político, a exemplo do cancelamento do aumento em algumas tarifas. Problemas estruturais do Estado brasileiro permaneceram intocados. Entre esses aspectos estruturais, há aqueles que certamente incomodam a maioria dos manifestantes de 2013, mas que não foram identificados como um pleito homogêneo naquele ano. O caráter injusto do sistema tributário brasileiro, que incide de maneira desproporcional sobre os pobres e sobre a classe média é um deles. A precariedade dos serviços públicos, que contrasta com a carga tributária elevada no país é outro. Adicionalmente, independentemente de questões ideológicas, a impunidade dos crimes cometidos por políticos seguramente causa descontentamento na maioria dos brasileiros. Diante de problemas estruturais concretos como os citados, os diversos setores da sociedade civil devem se organizar de maneira formal, e realizar reivindicações igualmente concretas. Professores, profissionais liberais, juristas e trabalhadores devem participar de partidos políticos e/ou criar novos partidos, participar de eleições e ocupar os espaços na representação democrática, no legislativo e no executivo. De tal maneira, em conjunto com as manifestações, poderão pleitear diretsmente os anseios legítimos da população, tais como a reforma tributária, a melhoria dos serviços públicos e o fim da imunidade parlamentar. A ocorrência de manifestações com um foco claro, aliada à participação política efetiva de membros bem intencionados da sociedade pode ser a chave para mudanças importantes para a melhoria de vida dos brasileiros.