Título da redação:

Entre a negligência e o estigma

Tema de redação: A questão do aumento de casos de suicídio no Brasil

Redação enviada em 09/10/2017

O livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, publicado em 1774 pelo escritor Goethe, narra a história de um homem que se mata após um fracasso amoroso. Embora fictício e do século XVIII, o romance apresenta uma temática que permanece atual: o suicídio. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de pessoas que tiraram a própria vida aumentou 12% desde 2011. À vista de disso, para compreender e enfrentar esse desafio no país, faz-se necessário analisar tanto as questões governamentais quanto a mentalidade social de grande parte dos brasileiros. É indubitável que as políticas públicas e suas aplicações estão entre as causas do problema. O Sistema Único de Saúde (SUS), por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), oferece medidas preventivas e tratamentos de doenças que podem resultar no suicídio, como a depressão, a dependência química e a ansiedade. O que se nota, contudo, é a fraca eficácia do funcionamento desse órgão. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, por exemplo, mais de um milhão de pessoas com transtorno mental grave não conseguiram atendimento médico pelo serviço público. Assim, evidencia-se a importância da ampliação das ações estatais como forma de combate à problemática. Outrossim, observa-se o estigma sobre psicopatologias como impulsionador do suicídio. Nessa perspectiva, o psicanalista Sigmund Freud destaca que o preconceito é um fator eficiente e perverso de exclusão social, pois instala-se na vida psíquica e é propagado continuamente. Nesse sentido, é possível perceber a permanência, em grande parte do senso comum, do paradigma da psicofobia, o qual relaciona o transtorno mental à insanidade, à “loucura”, ao manicômio e à camisa de força. Em decorrência dessa realidade de desrespeito e discriminação, muitas pessoas com distúrbios psíquicos deixam de buscar ajuda por serem intimidadas, o que agrava, ainda mais, o problema no Brasil. Destarte, o aumento do número de suicídios é resultado da ainda fraca eficácia dos serviços públicos de saúde e da permanência da psicofobia como intenso fator freudiano. A fim de enfrentar esse desafio, o Ministério da Saúde deve elaborar um plano de implementação de novas CAPS, aliado às esferas estadual e municipal do poder, principalmente em áreas que mais necessitem. Ademais, é imperativo ao Ministério dos Direitos Humanos, junto às associações civis, como o Centro de Valorização da Vida, promover eventos e palestras sobre saúde mental, os quais destaquem a campanha Setembro Amarelo e informem a população sobre como o preconceito contribui para aumentar a violência auto-infligida. Logo, poder-se-á diminuir no Brasil, o triste número de casos semelhantes ao do jovem Werther.