Título da redação:

O teatro grego por detrás da reforma educacional do Ensino Médio

Tema de redação: A questão da Reforma do Ensino Médio

Redação enviada em 13/04/2017

O governo brasileiro mais uma vez superou-se e promoveu o seu próprio teatro grego: comédia e tragédia dando nova forma e ceifando o pouco do que já resta do nosso sistema educacional. O novo golpe agora traja-se de hipocrisia e tem como protagonista a chamada Reforma Educacional do Ensino Médio. Em seus atos: o desenrolar e a progressão catastrófica do futuro da nação! A medida, que divide opiniões, foi trazida à público como método para reduzir a calamidade no sistema educacional brasileiro, que segundo as avaliações nacionais e internacionais, atingem quase os primeiros lugares de uma lista de padrões educativos, obviamente, se lidas de trás para frente! Mas é claro que os grandes pensantes dessa medida revolucionária explicam: a ideia é aplicar os padrões europeus de ensino ao Brasil, que é claro, com o puro uso do sarcasmo, de alguma forma deve ou pode ser comparado a esses Estados. Hilário, no mínimo. Mas para entendermos melhor a atrocidade, faz-se necessário relatar que tal Reforma prevê que somente as disciplinas de português e matemática serão compulsórias na nova grade curricular ainda em fase de elaboração, dando ao aluno opções de escolha e aprofundamento nas áreas que desejar aprimorar-se, podendo, assim, aos seus aproximados quinze anos de muito conhecimento e maturidade, decidir sobre todo o resto de seu futuro. Não obstante, a escola poderá fornecer, além das matérias compulsórias, apenas uma das cinco áreas pré definidas como concentradas: ciências humanas, ciências exatas, ciências da natureza e formação técnica e profissional. Ou seja, há ainda a grande possibilidade das escolas fornecerem apenas uma única área, o mínimo, uma vez que a comodidade e a falta de recursos propiciam a situação, extirpando as possibilidades daqueles alunos de terem uma escolha de fato. Há também a prospectiva de se aumentar progressivamente a carga horária anual de aulas, alcançando ao final dessa implementação, a regularização do ensino integral em todas as escolas. Os patriarcas da medida dizem ainda que essas definições permitirão um maior envolvimento dos alunos as suas áreas de interesses, o que os motivarão a continuar seus estudos. Contudo, tal ladainha é facilmente refutada quando quebramos a utopia europeia e voltamos a realidade brasileira, onde milhares de adolescentes nessa fase da vida já assumem parte fundamental no sustento de suas famílias. Assim sendo, uma vez compulsório o ensino integral, os jovens terão de escolher não sobre a profissão de seus sonhos, mas sim a sobrevivência. Dessa forma, observamos que tal medida na verdade camufla uma intencionalidade separatista e de certa forma elitista, além de açoitar publicamente a igualdade de direitos, uma vez que é quase certo que as redes públicas não sustentarão ofertar todas as disciplinas para os alunos, que se quiserem de fato terem uma formação descente, deverão recorrer ao ensino privado. Por detrás das cortinas, a intencionalidade é de se criar pura e "solamente" mão-de-obra barata! Mas para quem acha que esse é o ápice da sandice, engana-se! A reforma também prevê que as escolas poderão contratar discentes não necessariamente letrados para lecionar nas escolas, sendo suficiente apenas ter um "alto grau de conhecimento" na área em questão. Obviamente é sabido que o conhecimento empírico é válido, mas nos termos impostos pela reforma, aberto a qualquer interpretação, entende-se uma tentativa desesperada e fadada ao fracasso de formar nossos jovens com pessoas provavelmente sem o preparo adequado para tal. Ora, quanta contrariedade! Se uma das intenções do projeto é estimular os estudos, ceifar a profissão de discente vai contra todos os preceitos dessa reforma, pois, quem irá querer encarar anos em uma faculdade e todos seus desafios se poderá exercer a profissão sem ter um diploma? Afinal de contas, como muito bem já retratava a música Geração Coca-Cola, do Legião Urbana: "Depois de 20 anos na escola não é difícil aprender todas as manhas de seu jogo sujo, não é assim que tem que ser". Quanto a nossa realidade, por que não envidar esforços para trazer qualidade ao ensino público? Qual a real capacitação de pessoas com tão pouca idade para saber o que quer fazer da vida ou qual carreira seguir se nem ao menos terão a oportunidade de conhecer o leque de opções que inegavelmente é proporcionado, mesmo que minimamente, apenas no contato com as diferentes disciplinas ofertadas no ensino regular? Em toda essa loucura há somente um ponto positivo para a sociedade, o ensino interdisciplinar, o que de fato seria um avanço na nossa atual educação, uma vez que não somos ensinados a pensar e sim a aceitar goela abaixo o que nos é repassado nas escolas. Mas é realmente preciso repensar antes de massacrar a educação com uma medidas tão extremistas. É nítido que precisamos de uma Reforma Educacional, mas não deveríamos ser tratados como cobaias. Será realmente sensato comparar nossa realidade, país subdesenvolvido, com a realidade dos países desenvolvidos? É preciso repensar na política governamental num todo e propiciar as mesmas condições que são ofertadas a população europeia antes de querermos plagiá-la. Tratar os iguais como iguais, e os diferentes como diferentes. É preciso improvisar, ter a manha de contornar a situação de forma benéfica ao invés de restringir ainda mais a educação dos que são, sem dúvidas, o futuro da nação! Caso contrário, o que devemos esperar desse prospecto? Por fim, a medida já sancionada, que deve entrar em vigor ainda no ano de 2017, retrata claramente a morte do sistema educacional brasileiro. Quanto a isso, só temos a lamentar! Ao bom senso e a igualdade de direitos: que descansem em paz! Sem aplausos. E que se fechem as cortinas.