A mente do ser humano nasce como uma folha de papel em branco, à medida que realiza ações e compreende o mundo a sua volta, essa folha é preenchida, já dizia Locke. A pichação e/ou o grafite está intimamente relacionado a esta concepção: compreender o mundo e registrá-lo segundo as ideias dos artistas. Todavia, muitas vezes, esse registro, geralmente feito em imóveis espalhados pela cidade, é feito sem o consentimento do proprietário, o que conspurca as edificações e torna esse tipo de manifesto um crime. Logo, é necessário salientar que o que por vezes é caracterizado como crime, na verdade, é uma forma ou de denúncia das mazelas sociais ou de reconhecimento de uma sociedade. É comum associar pichação a grafite, porém no que tange ao conteúdo, esses dois tipos de manifestos se diferenciam. O grafite está relacionado às imagens, a representação de formas, de pessoas e da natureza, por isso é valorizado e visto como obra de arte. Já a pichação é um manifesto feito através de palavras e letras, aonde os artistas deixam suas ideias, sejam elas explícitas ou implícitas, sobre a sociedade, suas mazelas e seus sentimentos. Muitas vezes, está é vista como ato de vandalismo, pois os manifestantes a fazem em locais públicos e com uso de palavras chulas, o que dificulta a valorização e aceitação da mesma. Os estudos sobre a formação de uma sociedade consideram os registros feitos para o reconhecimento e entendimento da mesma, por isso, a pichação pode se enquadrar como um meio de entender uma sociedade e reconhece-la dentro dos moldes capitalistas, visto que, a maior parte de pichadores é composta pelas camadas marginalizadas (desfavorecidas) da população, que utilizam essa arte ou para chamar a atenção de governantes ou da mídia para a situação- financeira, de risco, falta de investimentos em setores básicos- pela qual aquele lugar vem passando ou como forma de liberdade, expor sentimentos, pedidos e opiniões individuais ou coletivas. Destarte os fatos mencionados, percebe-se que o principal objetivo da pichação é fazer registros da sociedade, que vão desde denúncias até exposição de sentimentos, através de escritos, o que apresenta um viés tanto artístico (a forma como é representado) quanto criminal (onde e com que autorização foi feito). Para a atenuação de tais problemas, faz-se necessário que órgãos municipais junto com a mídia conscientizem os cidadãos através de campanhas para que não haja conspurcação de edificações através do pichamento.