Título da redação:

Odeio azeitona

Tema de redação: A questão da Pichação – arte ou crime?

Redação enviada em 17/03/2017

Letras estilizadas e de difícil compreensão, frases e nomes que não interessam grande parte da sociedade, desagrado pelo aspecto sujo e primitivo. A pichação provoca as mais diversas sensações nas pessoas, predominando a rejeição. Em Belo Horizonte, na região central, há a seguinte frase marcada em um muro: odeio azeitona. É válido, a partir dela, ir além do senso comum e compreender o que faz os pichadores arriscarem suas liberdade - visto que é crime - e vida - já que costumam subir em monumentos altos sem proteção. Expressar-se por meio de desenhos e palavras faz parte da história da humanidade, mas por aqueles motivos, o picho é marginalizado. Ele surgiu no Brasil, com a ditadura, objetivando o protesto contra as medidas opressivas da época. Atualmente, entretanto, tem, também, o intuito de ser uma forma de clamar por reconhecimento e visibilidade social. Ao dizer "odeio azeitona", a pessoa quer mostrar que está viva, tem sentimentos e que não quer ser ignorada. Em uma sociedade consumista, na qual as relações sociais são fluidas, instáveis, como diz o sociólogo Zigmunt Bauman, e as afeições desvalorizadas, a maioria das pessoas tem a necessidade de se expressar e a pichação tem a finalidade de sanar esse problema, como qualquer outra forma de arte. Há, inclusive, o respeito entre os pichadores: Link Roots, grafiteiro e pichador, diz que apenas os novatos, não conhecendo o significado dessa arte, buscam muros limpos e novos. Na verdade, é mais interessante desenhar e escrever em paredes e portões antigos, já marcados, pois existe valorização da história das pichações e do sentimento no momento em que elas ocorreram. Logo, é uma manifestação artística simbólica, possui significado tanto reflexivo quando emotivo. A falta de conhecimento desses sentidos e do estereótipo criado pelo senso comum, o qual trata a pichação como sórdida, impede que a liberdade de expressão seja garantida. O grafite, que é considerado arte, também não escapa dessa intolerância: João Doria, prefeito de SP, ordenou que os muros com esses desenhos fossem pintados de cinza. O resultado foi um padrão gris que retirou a sensação alegre e meditativa provocada pela profusão de cores e de temas sociais. Medidas devem ser tomadas a fim de garantir os direitos tanto dos praticantes do picho e suas vertentes, como o grafite, bem como daqueles que não desejam ter sua propriedade marcada. O governo deve disponibilizar muros para que os pichadores e grafiteiros se manifestem como desejam. Para isso, além de destinar paredes públicas, deve criar campanhas, com, por exemplo, Link Roots, “Os Gêmeos” e outros artistas populares, que sejam veiculadas na televisão, em programas como “Fantástico”, e na internet, pelo Ministério da Cultura. Nesse projeto, é necessário que tenha a explicação do significado dessas manifestações artísticas e da importância de se permitir o picho nos muros para a sociedade, visto que além de embelezar, como faz o grafite, provoca reflexão social, como fazem ambos. Essa campanha também pode ser usada em escolas, nas matérias de história, artes, filosofia e sociologia, visando promover debates com os alunos. Assim, a cultura será defendida, assim como a liberdade de expressão.