A pichação, no Brasil, se popularizou durante a Ditadura Militar, quando os manifestantes protestavam por meio de frases de efeito. Esse modo de expressão continua presente e, apesar de ser visto como poluição visual por algumas pessoas, permite que camadas mais pobres tenham protagonismo social. Marina Abramovic foi uma artista performática, que desafiou os preconceitos de sua época e escandalizou seu público, sendo amplamente reconhecida. Assim como ela, os pichadores não têm intenção de embelezar ou agradar, mas sim de contestar as normas e as opiniões públicas, expondo seus pensamentos nos muros a fim de gerar reflexão, motivo pelo qual essa prática deve ser considerada artística. Além disso, a pichação é uma manifestação democrática, já que requer poucos materiais e pode ser executada pelos cidadãos em geral, o que a torna imprescindível. A Bienal de São Paulo, em sua 29 ͣ edição, convidou pichadores a se apresentarem, reconhecendo sua importância, entretanto o Código Civil penaliza-os, transformando-os em criminosos. Essa atitude categórica se mostra ultrapassada, e ainda comete um ato de discriminação, porque a maioria das pessoas que realiza essa ação é marginalizada e vê nesses escritos a única forma de se revoltar contra a invisibilidade social a que é submetida, pois não tem direitos básicos como saúde de qualidade e saneamento. A arte de pichar propicia a exteriorização de ideias e dá visibilidade aos que sofrem com as mazelas da sociedade. Portanto, é necessário que o governo limite as punições apenas para pichações feitas em propriedades privadas e garanta os direitos básicos a todos, uma vez que a prática é resultado das diferenças sociais causadas pelo descaso do Estado. A população civil, por sua vez, deve ser mais receptiva às mensagens reflexivas que as palavras carregam nos muros.