Título da redação:

Porque o debate da jornada de trabalho não evolui

Tema de redação: A questão da jornada de trabalho no Brasil - aumentar ou reduzir?

Redação enviada em 15/08/2016

Nos últimos meses, em meio a atual crise econômica do país, a questão da jornada de trabalho voltou a ganhar destaque. Diante disso, empresários e trabalhadores tem aproveitado a situação para colocar em evidência suas soluções para o problema. Propostas como a flexibilização, o aumento ou a diminuição da carga horária, com ou sem a redução do salário, tem surgido como os principais pontos dessa discussão. No entanto, para que a ela se torne mais produtiva e benéfica para todos, a proposta de aumentar a jornada precisa ser eliminada da mesa. Recentemente, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, se apropriou de forma equivocada e simplista da nova reforma trabalhista francesa como argumento para defender um aumento de 16 a 36 horas na carga de trabalho atual. Entretanto, há cerca de 90 anos atrás, o industrialista e conservador Henry Ford entendeu que reduzir a jornada de trabalho de 80 horas semanais para 40 horas era melhor para a produtividade, rentabilidade e concorrência de sua empresa, a famosa Ford Motor Company. Nesse sentido, o aumento da jornada brasileira, que ainda é 44 horas semanais e uma das maiores do mundo, se apresenta como uma proposta retrógrada, oportunista e imediatista. Além disso, estudos tem demonstrado que o bem-estar do trabalhador é um fator essencial para sua produtividade. Longas jornadas de trabalho e o desgastante tempo gasto no deslocamento ocupam a maior parte de dia de um trabalhador que poderia estar investindo parte dele em sua família, saúde e educação, importantíssimos fatores que, se bem mantidos, contribuem expressivamente para o bem-estar e desempenho do trabalhador. Segundo estudo da Universidade de Keio no Japão, realizado com dados de 6,5 mil australianos, "O pico da habilidade cognitiva ocorre entre 25 e 30 horas e cai se as horas são reduzidas ou aumentadas". Portanto, se faz evidente que aumentar a jornada é um equívoco e um retrocesso e que diminuir e flexibilizar a carga horária talvez seja uma solução prática e barata para o problema. Para isso, e para começar, é preciso que o Estado invista em pesquisas e experimentos que busquem encontrar a melhor configuração entre carga horária e produtividade de forma que garanta o bem-estar do trabalhador, o sucesso das empresas e o desenvolvimento da economia. Assim, a debate em questão tem chances de se tornar produtivo e futuramente benéfica para todos.