Na mesma semana em que a França viveu ondas de protestos por causa de uma proposta que flexibilizaria as leis trabalhistas, o presidente da Confederação Nacional da Indústria em reunião com o governante interino do Brasil sugeriu que a jornada de trabalho em relação a atual fosse dobrada. Desta maneira, discutem-se as consequências que tal medida contrária à tendência de redução, a qual o avanço da tecnologia viabiliza, acarretaria à qualidade de vida e à produtividade do trabalhador brasileiro. Logo, é indubitável que além de diminuir a produtividade, pois se terá menos tempo para descansar e dedicar-se ao lazer, o aumento dos índices de desempregos seria uma consequência direta desta medida, uma vez que pessoas cansadas e estressadas estariam exercendo atividades que outras economicamente inativas poderiam exercer. Desde a Revolução Industrial, onde nasceu relações de trabalho semelhantes às atuais com proprietários e assalariados, foram conquistados diversos direitos que intencionaram prevenir os trabalhadores da superexploração e condições desumanas. Assim, o avanço da tecnologia também participou diretamente nesse processo, uma vez que a mecanização possibilitou o aumento da produtividade, mas também foi responsável pelo aumento do desemprego. Conforme o filósofo Vladimir Safatle salientou ‘’O desemprego cresce porque a automatização cresce e a jornada permanece constante - e medieval’’, pois apesar de a sociedade ter tido uma considerada evolução tecnológica nos últimos dez anos, a jornada de trabalho não foi alterada desde 1988, quando a computação mal tinha sido introduzida no país. Governos que adotam política de bem estar social e reduziram a jornada de trabalho, percebem o resultado positivo que a medida acarreta, como por exemplo, a Suécia que reduziu recentemente a carga de 8 para 6 horas, segundo os governantes do país, a diminuição da jornada de trabalho aumentou a produtividade, reduziu as faltas e melhorou até mesmo na saúde dos empregados. Desta maneira, pode-se inferir que além de maior tempo para lazer o trabalhador com carga horária reduzida tem a possibilidade de dedicar mais tempo aos estudos e assim aperfeiçoar suas habilidades, o que também trás benefícios as empresas. Portanto, o maior desafio da sociedade e do governo é conciliar o bem estar dos cidadãos e o interesse capitalista das empresas de aumentarem cada vez mais seus lucros. Sendo assim, deve haver acordos entre o governo e indústrias, em que estas se comprometam a contratar mais pessoas e diminuir a carga horária dos empregados já contratados, sem que haja alterações nos salários, e o governo por sua vez reduzir a burocracia na contratação e impostos para empresas que adotarem essa medida. O cidadão por sua vez deve participar ativamente desse processo politizando-se e manifestando-se para defender seus direitos e também sugerir medidas.