Título da redação:

"Copo vazio"

Tema de redação: A questão da inclusão das pessoas com deficiência

Redação enviada em 03/11/2017

Na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, Brás rompe com seu relacionamento com Eugenia, porque ela tinha uma disparidade no tamanho das pernas. No contexto brasileiro do século XXI, o preconceito contra pessoas com deficiência ainda se faz presente – seja estruturalmente, seja socialmente -, embora o Estado proponha medidas para incluí-las. Em primeiro plano, é importante ressaltar que a defasagem na construção de uma massa que respeite as alteridades é o âmago da problemática. Segundo a premissa de Aristóteles, a qual está prevista no princípio de equidade da Constituição de 1988, o país deve dar a cada um o que lhe é devido. Entretanto, na educação brasileira, não há o estudo de ciências políticas, implicando a ignorância desse ideal e, logo, a obtenção de cidadãos incapazes de olhar para o outro. Dessa forma, quando a questão dos deficientes é posta em discussão, sempre há um posicionamento de integração, nunca de efetiva inclusão: o grupo tem que se adaptar à sociedade ao invés dela promover um ambiente propício. Prova disso é que a quantidade de falantes que não possuem entraves auditivos de libras é ínfima no Brasil, ainda que seja a segunda língua mais falada no mundo. Aliado à esfera acadêmica, o fracasso de efetivação das normas do Governo Federal contribui para a persistência do revés. A criação do Estatuto da Pessoa com Deficiência e da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência englobam bastantes requerimentos para compreender a minoria. Entretanto, a falta de fiscalização dessas e de outras normas, como o dever da cidade de promover calçadas com rampas para cadeirantes, leva ao descumprimento descabido. Nos estacionamentos, por exemplo, é comum o uso das vagas reservadas a essa parte da população por indivíduos que não entram nos requisitos. Depreende-se, portanto, que é preciso mudar os alicerces da sociedade a fim de que os seres com necessidades especiais não sejam vistos como um fardo, mas como iguais. Com o intuito de modificar o Senso Comum de forma que preconceitos sejam desfeitos, cabe ao Ministério da Educação instituir o estudo de ciências políticas e, simultaneamente, dar mais ênfase à ética na disciplina de filosofia. Por fim, é imprescindível que o Poder Judiciário crie um órgão especializado na fiscalização das leis vigentes e aplique altas multas a quem não cumprir com o objetivo, visando a inclusão estrutural. Dessa maneira, a modificação de perspectiva proposta por Gilberto Gil em sua música “Copo vazio” – a de que não está vazio, mas cheio de ar – será aplicada aos deficientes, que tomarão uma imagem mais justa ante o povo.