Título da redação:

A condição humana e depressão

Tema de redação: A questão da depressão e seus impactos na sociedade

Redação enviada em 04/10/2016

A vida é repleta de eventos doloridos e a tristeza faz parte da condição humana. Mas quando é que estar triste se transforma em doença? A depressão é um problema de saúde pública, esta se distingue da tristeza pela duração de seus sinais e pelo contexto em que ocorre. Trata-se de uma experiência cotidiana associada a várias sensações de sofrimento psíquico e físico e que pode impedir que a pessoa realize suas atividades cotidianas e atrapalhar nos relacionamentos. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), pelo menos 350 milhões de pessoas sofrem desse mal no mundo. No Brasil, de acordo com um levantamento nacional da Universidade Federal de São Paulo, um terço da população brasileira apresenta sintomas de depressão. A depressão é considerada um transtorno mental comum e pode aparecer em três graus: leve, moderada ou grave. Os casos extremos levam o indivíduo a ficar incapacitado diante da vida até mesmo a desistir dela. Segundo a OMS, 15% dos depressivos comentem suicídio. Diagnosticar e traçar a linha que separa a normalidade da patologia é sempre uma dificuldade e no meio disso tudo existe a estigmatização da doença. Ela não tem uma causa ou características únicas e atinge as pessoas de modos diferentes. Em termos científicos, não existem testes laboratoriais que revelam quando a tristeza se torna um estado de depressão. O único jeito é observar a si mesmo. Para psicólogos e psiquiatras, a depressão pode surgir de diversas formas, principalmente como reação a uma situação estressante. Os fatores desencadeantes podem ser acontecimentos como traumas na infância, a morte de alguém, o fim de casamento, isolamento social ou violência. Não raro, porém, a depressão surge sem motivo. Os sintomas ajudam no diagnóstico do quadro e a intensidade na experiência dos fenômenos relacionados à depressão é um dos fatores mais mencionados por pessoas que a viveram. A perda de interesse pelo trabalho ou lazer, dificuldade de concentração, baixa autoestima, sonolência, choro por qualquer coisa, sentimento de culpa ou desamparo, ansiedade, falta de libido, ataques de pânico e pensamentos negativos frequentes são alguns dos comportamentos relacionados ao transtorno. Os mecanismos pelos quais a depressão se instala ainda não são totalmente conhecidos. Mas a medicina descobriu que o estado de depressão gera determinadas modificações químicas no corpo. O corpo humano tem 12 bilhões de neurônios. Os neurotransmissores são substâncias químicas sintetizadas, liberadas pelos neurônios e responsáveis por sensações como prazer, conforto e bem-estar. Sabe-se que neurotransmissores cerebrais têm um papel relevante no processo da depressão. A serotonina é a substância que ajuda a controlar o humor e diversas outras funções vitais do organismo, como o sono. Já a noradrenalina ajuda a produzir o hormônio adrenalina, com efeito estimulante e que cria o estado de alerta em situações de perigo. A depressão se traduz como uma desordem no cérebro, órgão que tem dificuldade de manter o equilíbrio dos níveis de serotonina e noradrenalina no corpo. Remédios antidepressivos não produzem essas substâncias, mas aumentam os níveis delas. Para controlar o equilíbrio dessas substâncias nas células, o corpo produz a enzima monoaminoxidase, que elimina o excesso de neurotransmissores. Pessoas deprimidas geralmente não têm níveis baixos de neurotransmissores, mas a enzima trabalha “demais”, atrapalhando o fluxo livre de liberação da serotonina e noradrenalina. Antidepressivos atuam na inibição da monoaminoxidase para que os níveis desses transmissores permaneçam altos. Especialistas classificam a depressão em bipolar (também conhecida como PMD- psicose maníaco depressiva) ou unipolar. A PMD alterna momentos de euforia (quando provavelmente há excesso de neurotransmissores) e profunda depressão, quando provavelmente há falta. A do tipo unipolar é relacionada à melancolia sem fim. A OMS recomenda que casos de depressão moderada ou grave devam ser tratados com medicação capaz de aliviar seus sintomas, com dosagens específicas para cada paciente. O ideal é que o tratamento conte com psicoterapeutas e psiquiatras que ajudam a trabalhar as questões emocionais da pessoa. Pesquisadores testam novas formas eficazes de tratamento da depressão com estudos que buscam identificar as áreas exatas no cérebro relacionadas a determinadas sensações. Se localizarem com sucesso, no futuro será possível ter aparelhos para estimular ou inibir áreas de um cérebro deprimido. Atualmente, tratamentos com estimulação cerebral com eletrodos diminuem os sintomas, mas são recomendados muito raramente e para casos mais extremos. A carga elétrica parece aumentar o efeito da dopamina e afetar os outros neurotransmissores, além de estimular o metabolismo do córtex frontal. Um pouco menos invasiva é a técnica com ressonância magnética, que estimula o cérebro com ondas eletromagnéticas que aumentam o fluxo sanguíneo na área e, consequentemente, sua atividade cerebral. Terapias complementares e a adoção de hábitos saudáveis ajudam na recuperação e na prevenção da depressão. Ter uma alimentação nutritiva diária, evitar o uso de drogas e o consumo de álcool, praticar esportes (exercícios produzem endorfina) e atividades de relaxamento e meditação são importantes ferramentas para combater o estresse e enfrentar e superar problemas. A ciência também relaciona problemas hormonais e genéticos às causas da depressão. Nas mulheres, os níveis flutuantes dos hormônios estrogênio e progesterona influenciam o humor. Além das dificuldades, contextos e histórias de vida de cada pessoa, existem fatores sociais difíceis de mapear que podem levar ao que se denomina depressão. O mundo contemporâneo está cada vez mais complexo. E o que todos desejam e buscam é a felicidade, o oposto da depressão. Nas capas de revista, nos filmes, nos livros de autoajuda. O sucesso profissional, um casamento, um corpo perfeito, a viagem a um lugar paradisíaco, a casa dos sonhos, o status, a riqueza. Experiências são “vendidas” como verdadeiros caminhos para a felicidade, algo que só dependeria de você. Mas esse tipo de discurso acaba sendo uma grande armadilha. Se ser feliz só depende de mim, e eu não sou, logo eu falhei. O fracasso gera uma nova frustração. Por exemplo, a cobrança de padrões de beleza impossíveis de se conquistar leva diversos adolescentes a um quadro de baixa estima, em alguns casos à depressão profunda.