Título da redação:

Quitute, berimbau e turbante

Tema de redação: A questão da apropriação cultural no Brasil

Redação enviada em 26/01/2019

A feijoada é um prato típico que foi criado pelos negros escravos devido a precariedade de ingredientes, e por causa dessa alegoria ser de pertencimento afrodescendente dizia-se que era comida de “preto e pobre” até que, essa iguaria conquistou a “casa grande” e uma empresa alimentícia começou a vender esse prato congelado. Essa comercialização deve ser combatida na esfera coletiva por se tratar de apropriação cultural. Logo, discutir esse assunto no país requer a presença de protótipos para que o discurso não seja factoide e lese ainda mais a comunidade expropriada. Vale ressaltar que, primeiramente, não há problema algum em uma mulher branca de fé diferente das de matrizes africanas usar turbante. A objeção é quando a indústria da moda vende o acessório com novo significado e, ao mesmo tempo, mina a representação original e isso sim, tem que ser apresentado como erro e detonado pelas mídias. Desse modo, combater essas ideias unilaterais é responsabilidade de todos que são minorias sociais ou sempre representados de maneira que estes o silêncio e aqueles o lugar de fala com o objetivo de reduzir a dívida histórica que o país tem com 16,8 milhões de negros autodeclarados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016. Outro exemplo é a capoeira, em 2008, registrada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em época criminalizada como uma técnica de combate usada para defesa contra a perseguição dos capitães do mato. Desarte, da marginalização ao reconhecimento internacional foram séculos para que, de acordo com o Itamaraty, 71 países tivessem rodas de capoeira registradas. Nesse caso, existe o respeito, a valorização e o reconhecimento da cultura e confirmando que é possível usufruir da alegoria de terceiros sem esvaziar a riqueza dos significados. Lourdes Teodoro, psicanalista negra brasileira, disse em um programa de debate: o turbante ajuda sobreviver, mas o que empodera é o conhecimento. Portanto, são as políticas afirmativas que possibilitam os discursos profundos, que promovem a mudança na vida desses indivíduos e o extravasamento dessas ações que podem reduzir essa dívida histórica. Ademais, a exigência de cotas para negros em produções artísticas que pleiteiam financiamento com o Ministério da Cultura para apresentar aos segregados que eles podem vislumbrar qualquer profissão e provocando a valorização cultural para com esse nicho populacional, como o filme Pantera Negra. Assim, a atual configuração social do país necessita de mais debates sobre as minorias para que no futuro exista uma representatividade mais igualitária.