Título da redação:

Mosaico

Tema de redação: A questão da apropriação cultural no Brasil

Redação enviada em 12/08/2017

A apropriação cultural é um fenômeno gerado pela intensificação do contato entre diferentes culturas. Esse termo refere-se ao uso de elementos de uma cultura, historicamente oprimida, por parte de outra dominante, abstraindo seus significados reais. Embora essa questão promova intenso debate, é preciso relativizá-la, haja vista o enorme número de casos de apropriação não discriminados e o aumento das segregações social e ideológica fomentadas por tal discurso. Inicialmente, vale frisar que várias formas de apropriação cultural são praticadas em todas as sociedades, sem gerar questionamentos. No Brasil, pode-se citar o uso maciço da língua inglesa, a apreciação de músicas e danças internacionais e a prática de culinárias de diversos países. Tais hábitos são tão arraigados à sociedade brasileira que não destacam o fato de serem também apropriações de elementos externos à cultura nacional, não incitando ao debate nem à crítica de perda de identidade cultural. Outrossim, o discurso de apropriação cultural mostra-se uma ferramenta ideológica que agrava a segregação social entre os diferentes grupos culturais, ao invés de uní-los em prol do respeito mútuo. Apesar de o uso de elementos de diversas culturas não ser tipificado como crime, é considerado um desrespeito ético pelos opositores dessa prática, uma vez que aqueles perdem seu simbolismo histórico-cultural, em um processo análogo à aculturação, segundo a antropologia. Como exemplos, tem-se o olho grego e o hamsá, objetos considerados amuletos e protetores espirituais na Grécia e nos países árabes, respectivamente, mas que são usados em jóias, decoração e tatuagens no mundo ocidental. Não obstante, sendo a difusão cultural inevitável no mundo globalizado, é mais válido enxergar esse fenômeno como uma mesclagem de características, e não como como um roubo ou apropriação, o que implicaria dizer que os indivíduos proprietários originais dos elementos apropriados perderiam o direito a eles, o que não ocorre. Por conseguinte, o termo apropriação surge da ideia de uma exclusividade cultural, a qual alarga o abismo entre as variadas culturas e ainda se opõe à ausência de uma pureza genética ou étnica dentro de um Brasil miscigenado desde as raízes. Para amenizar esse cenário de provocações ideológicas, o Ministério da Cultura deve veicular uma campanha na tv aberta, a qual mostre elementos culturais variados e explique suas origens, suas histórias e seus significados, enfatizando que todo cidadão possui liberdade de expressão para usar tudo aquilo que lhe traga identificação. Tal medida visa difundir melhor os valores culturais e esclarecer o fato de que o uso de objetos representantes desses valores por quaisquer grupos não expropria o grupo originário do valor em questão, à medida que não retira de seu povo o sentimento de pertencimento àquela cultura, bem como o protagonismo da própria história, essa sim pessoal, única, exclusiva e intransferível.