Nos últimos meses, com a utilização de turbantes por caucasianos, a questão da apropriação cultural começou a fortemente debatida. A expressão refere-se à assimilação de elementos culturais de um grupo por pessoas pertencentes a outro. Nesse contexto, é importante refletir sobre o caráter religioso e simbólico que o adereço tem para as populações afrodescendentes . É crucial lembrar, primeiramente, que o turbante é muito mais que um adereço estético para algumas religiões de matrizes africanas. Tais grupos o utilizam em seus cultos com funções protetivas, já que acreditam que o centro da cabeça é uma região importante e precisa ser resguardada. Dessa forma, usar um item de cunho religiosa de forma banal, principalmente em desfiles e propagandas, e por indivíduos que não entendem o seu significado, além de apropriação cultural, é um total desrespeito. Ademais, o turbante também assumiu um papel simbólico nos movimentos de resistência negra. Por décadas, os indivíduos que usavam turbantes eram socialmente rechaçados e oprimidos. Com o tempo, esse item passou a representar a obstinação do movimento negro perante as tentativas de apagar sua herança cultural. Assim, quando usado frequentemente por indivíduos de outros grupos, esse item perde seu simbolismo social e acaba banalizado. Torna-se evidente, portante, a importância de uma reflexão profunda sobre o uso do adereço e seu significado. Cabe às ONGs vinculadas ao movimento negro, preparar materiais explicativos e de fácil entendimento que demonstrem seus principais argumentos sobre o tema, evidenciando a teor religioso do item. Cabe ao governo fornecer meios para a divulgação desses materiais, através do financiamento de comerciais e da impressão de folhetos. E cabe a sociedade informar-se sobre as diversas perspectivas do tema antes de assumir um posicionamento.