O significado da palavra "apropriação" já reside na própria estrutura do vocábulo: tornar próprio, privado. Quando juntamos tal vocábulo com a expressão "cultural", referimo-nos à incorporação de certos elementos culturais por grupos ou indivíduos pertencentes a outra cultura. Esse processo traz várias implicações, uma vez que, no século marcado pelas diferenças, quaisquer que elas sejam, a sociedade se depara com a questão da convivência, a qual deve basear-se principalmente, na aceitação dessas diferenças. Apropriar-se de uma cultura não necessariamente implica conotação negativa.Há casos em que o grupo social adere a um tipo de cultura não para expressar relações de poder, tampouco zombar ou menosprezá-la. Eles incorporam-na por se identificar com os traços culturais dela, atribuindo um sentido e utilidade diferente do original. Entretanto, é aí que reside o problema: segundo o ilustre sociólogo Emile Durkheim, a partir do momento em que há uma desvirtualização da cultura, isto é, a perda da essência e da história por trás dela, estaria iniciando-se um processo de aculturação. Quando inserimos o Brasil nesse contexto, percebemos duas coisas instantaneamente: primeiramente, a pluralidade cultural brasileira não tem fim, pois são inúmeros os povos e etnias que aqui viveram e vieram durante toda a história.Em segundo lugar,a questão racial prevalece em detrimento das demais, já que durante boa parte da história brasileira, os negros foram dominados pelos brancos. Por este motivo, ainda carrega-se um racismo disfarçado em todos os níveis sociais, de tal maneira que, hoje mais do que nunca, o grupo social dos negros reivindicam sua cultura como forma de autoafirmação. Nesse sentido, a luta por direitos é legítima, mas não há necessidade de "crimes culturais", uma vez que a liberdade individual é o princípio norteador de qualquer democracia. Portanto, a questão da apropriação cultural no Brasil é muito mais complexa do que se imagina. Com o objetivo de elucidar o cenário e a temática dessa questão, algumas medidas são necessárias: primeiramente, é imprescindível que a própria sociedade caminhe em conjunto no que se refere à aceitação das diferenças, em busca do ideal de harmonia social. Pode-se fazer isso por meio de campanhas de conscientização nas escolas, nos ambientes de trabalho e locais públicos. É na esfera escolar que também deve haver mudanças, no que diz respeito à formação cultural dos estudantes. Debates são fundamentais durante as aulas de Sociologia, a fim de que o aluno desenvolva senso crítico acerca dos processos culturais e sua importância na sociedade. Por fim, a criação de ONGs é de grande ajuda caso algum grupo específico ache que sua cultura está sendo ameaçada , visando preservar suas raízes (como acontece com algumas tribos indígenas.) Dessa forma, espera-se a formação de um Brasil harmonioso e mais tolerante.