Título da redação:

Conserve o samba!

Tema de redação: A questão da apropriação cultural no Brasil

Redação enviada em 27/03/2017

Em 1933, Noel Rosa grava a música “Não tem tradução”. Nela, identifica-se a invasão e a dominação cultural americana e francesa no Brasil, em frases como “mais tarde o malandro deixou de sambar” e passou a dançar o foxtrote inglês. Portanto, a indústria cultural, desde seu início promoveu a implantação de uma cultura dominante, fazendo com que a local perca suas características. O filósofo, da escola de Frankfurt, Adorno criou a expressão indústria cultural como aquilo que é imposto na sociedade, visando a obtenção de lucro, retirando a essência, ou seja, a arte do produto. Com isso, no mundo globalizado, utiliza-se a ideia de integração ente culturas como um artifício para a apropriação de objetos pertencentes a outros grupos, retirando o significado deles e atribuindo um caráter global. Assim, não há dominação de culturas em relação à posição político-econômica dos países (hegemonia americana), mas também em relação às etnias (hegemonia branca). Logo, um objeto como um turbante usado por uma pessoa branca tem a conotação de união entre culturas e conseguinte valorização da cultura africana. Porém, essa situação representa a apropriação de um artigo, com a retirada completa de seu significado em busca de promovê-lo como um produto em massa. Desse modo, perde-se o seu real valor, como um símbolo de pertencimento e de resistência a aculturação promovida pelos colonos portugueses, que retiraram a religião, a língua e o nome do escravo quando chegou ao Brasil. Portanto, assim como, para Noel, “ a gíria do samba não tem I love you” o turbante é um grito silencioso de abrigo. É necessário despir a indústria cultural, apresentando-a como ela realmente é, podendo ser feito com o ensino de culturas africanas e orientais nas escolas do país, assim como propagandas governamentais que incentivam a valorização dessas e palestras em ambiente de trabalho e escolar para promover o seu reconhecimento. Somente assim poderemos conservar o samba, ignorando o foxtrote.