Título da redação:

CHOQUE CULTURAL

Tema de redação: A questão da apropriação cultural no Brasil

Redação enviada em 12/04/2017

Brás Cubas, defunto-autor de Machado de Assis, deixou escrito em suas “Memórias Póstumas” que se orgulha em não ter tido filhos, pois, assim, não transmitiu o legado da miséria humana à sua geração. Hodiernamente, talvez, ele percebesse o quão louvável foi a sua ideia, pois, um país onde a comunicação de massa aproveita um acontecimento para, a partir de então, deturpar a crítica que a classe oprimida faz sobre apropriação cultural, isso, de fato, faz perder a fé na humanidade. Primeiramente deve-se salientar que a discussão sobre apropriação cultural vai muito além do simples uso de um objeto. A real crítica é o fato da adaptação indevida de costumes da classe oprimida pela classe opressora; tornando certo acessório plausível quando usado pelos privilegiados e banal quando pelos marginalizados, fazendo perder toda a história por trás daquele adereço. Para falar do turbante, por exemplo, vale mencionar que na época da colonização do Brasil a metrópole portuguesa trazia, em péssimas condições, negros do continente africano para serem escravizados na colônia e, como se não bastasse todo processo humilhante, ainda eram obrigados a darem sete voltas ao redor da “árvore do esquecimento” como símbolo do desmemoriamento de toda a história daquele indivíduo. Com o passar dos anos criou-se o turbante com a noção de que em cada volta de pano dada na cabeça do negro seria como se as memórias retornassem àqueles indivíduos. Sintetizando: não é só um adereço. Um fato recente que disseminou rapidamente uma série de críticas foi o da jovem branca de Curitiba que usava um turbante para “esconder” os efeitos da quimioterapia no metrô, quando, supostamente, foi abordada por jovens negras que exigiam a retirada do acessório. A notícia repercutiu rapidamente simplesmente porque a vitima postou o acontecimento nas redes sociais. Mas será que repercutiria da mesma forma se fosse uma negra no lugar da jovem branca? Infelizmente o fim seria como o de muitos negros que sumiram ao entrarem no camburão da polícia: ninguém saberia do acontecimento. A mídia, por exemplo, não se preocupou em divulgar artigos de opinião sobre o que aconteceu com a youtuber negra que foi encurralada por dois homens brancos que a obrigaram a tirar o seu turbante e a cortar o seu cabelo por “acharem feio”. O Brasil, do contrário que pensam, ainda é um país onde muitos usam termos diferentes para expelir o racismo que há dentro de si mesmo. Como disse o célebre filósofo inglês Thomas Hobbes: ”O homem é o lobo do homem”. Fica evidente, portanto, que não é só uma questão estética que está no palco das discussões, mas sim em toda a história por trás de cada adereço que muitos desconhecem, mas, por moda, aderem. Não se pode culpar o indivíduo por simplesmente não conhecer tudo, óbvio, mesmo porque a educação brasileira peca absurdamente em vários quesitos como, por exemplo, na história da África; algo que deveria estar inserido na matriz curricular do ensino há muito tempo. Com isso, medidas devem ser tomadas para resolver esse impasse, tal como a de uma nova análise do currículo do ensino médio e fundamental por parte do Ministério da Educação seria de grande progresso na conscientização dos jovens brasileiros, assim como a iniciativa do Ministério da Cultura na criação de projetos sociais que visem o estudo das culturas que fizeram e fazem parte do legado brasileiro. Só assim o indivíduo será reconhecido quanto pessoa e não subdividido em raça, casse ou gênero.