O Brasil é um país formado por três raízes étnicas: a européia, a africana e a indígena autóctone, que originaram um país miscigenado e multicultural, no qual, até recentemente, não se falava em apropriação cultural quando um grupo cultural adotava alguns elementos de outro grupo, mesmo se esse elemento proviesse de uma etnia oprimida. O debate sobre a apropriação cultural no Brasil ganhou maior repercussão quando uma garota curitibana branca, diagnosticada com câncer, estava usando um turbante quando foi repreendida por duas mulheres negras por conta do uso do acessório. O turbante pode ser visto como símbolo de resistência negra, porém, não são somente os afrodescendentes que têm o item como símbolo de sua cultura, já que ele já foi e ainda é usado pelos persas, hindus, árabes e até europeus; portanto, é equivocado afirmar que o turbante pertence tão somente à cultura africana e só poderia ser utilizado por esta. Na primeira fase do modernismo brasileiro surgiu um novo conceito de antropofagia criado por Oswald de Andrade para designar o incorporamento de elementos de outras culturas (principalmente a européia) à cultura brasileira visando o seu enriquecimento. Na época, a questão da apropriação cultural não foi levantada em nenhum momento por conta de o movimento literário ter incorporado elementos culturais europeus aos costumes brasileiros, ou seja, só é considerada apropriação quando elementos de uma civilização oprimida estão sendo incorporados. Por ser um país densamente miscigenado, deve ser inserido nas escolas o ensino da antropologia, disciplina que estuda as culturas de diferentes povos, com um enfoque maior nas civilizações que formaram o país (européia, africana e indígena), para que, assim, desde cedo os cidadãos saibam que nenhum deles é formado de uma só etnia e que usar adereços de outras culturas não é errado, já que o cidadão tem o direito de se vestir como quiser.