Título da redação:

A questão da apropriação cultural no Brasil

Tema de redação: A questão da apropriação cultural no Brasil

Redação enviada em 26/02/2017

Alguns recentes acontecimentos que tiveram destaque na mídia nacional reacenderam a discussão sobre apropriação cultural no Brasil. Há quem defenda o ponto de vista de que a cultura pertence a todos e não deve ser vista como exclusividade de um determinado grupo social, enquanto outros reclamam do fenômeno, que, segundo eles, esvazia o significado de elementos e práticas muito importantes para o povo do qual se originaram. Diante desse conflito de opiniões, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio que confira às pessoas a liberdade de conhecer e eventualmente adotar diferentes costumes sem que os mesmos tenham seu sentido original esquecido durante esse processo. É importante destacar que esse intercâmbio de culturas sempre esteve presente durante toda a história da humanidade como resultado natural das diversas formas de interação entre os povos ao redor do mundo. Entretanto, o advento do capitalismo forjou uma modalidade menos espontânea desse fenômeno, na qual certos elementos culturais são desvinculados dos valores que possuem em sua essência para se transformarem em mercadorias sem qualquer significado. É sobre essa prática que recaem as críticas daqueles que condenam a apropriação cultural. A questão é complexa e tem ainda relação direta com a discriminação de minorias, evidenciada, por exemplo, em uma criticada campanha publicitária para divulgação do uso de turbantes cujas modelos eram todas brancas. Por outro lado, é preciso aceitar que no mundo atual é inviável tentar impor limites a determinado grupo de indivíduos sobre o que pode ou não ser adotado como hábito com base no único argumento de que estariam praticando apropriação cultural. Isso iria de encontro à liberdade do ser humano, uma das principais premissas dos direitos humanos defendidos no plano internacional. Ademais, de acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman, é impossível manter puras as tradições de determinada comunidade haja vista a intensa globalização que impera nos dias de hoje. Sendo assim, resta claro que o fenômeno da apropriação cultural motivado pelo capitalismo é nocivo e pode ser considerado ofensivo pelas minorias afetadas. No entanto, é inútil tentar controlar o mercado capitalista ou impor limites às pessoas quanto aos seus hábitos. Ao invés disso, aqueles que se sentem contrariados pelo fenômeno em discussão devem visualizar, na divulgação comercial de elementos próprios de sua respectiva cultura, uma oportunidade de fortalecê-la, fornecendo informação aos leigos de forma que passem a conhecer o real significado daquilo que consomem. Essa mudança de postura preservará a liberdade de escolha dos indivíduos e fará com que respeitem e valorizem os hábitos por eles incorporados.